Zemaria Pinto
3 – Contos com declaração
inicial
Apresentando características tradicionais dessa modalidade narrativa,
relacionamos, aqui, dois contos que têm uma declaração, uma exposição
introdutória, que corresponde ao motivo do conto, uma explicação necessária que
atrai o leitor para o desenvolvimento da narrativa. O foco narrativo é em 3a
pessoa.
A feia – A apresentação é feita pelo
narrador, que conversa com o leitor sobre as estrelas de ficção, quase sempre
belas e elegantes. Após essa introdução, conta-nos a história de Maria, a feia.
César, galã de plantão, é cobiçado por todas as moças do lugar, sendo, também, objeto
de desejo da feia. O moço adoece, as pretendentes e até a namorada da vez,
Zilma, desaparecem. Somente Maria cuida, juntamente com a empregada Izabel, do
enfermo. Ao sarar, o jovem é prestigiado com uma festa, na qual, para surpresa
geral, pede a feia em casamento.
Por vezes, o narrador demonstra afeição pela feia, chamando-a de
Mariinha. Tal afeição, também, é demonstrada pelo final feliz da personagem.
Quando as árvores falavam... – O narrador apresenta o
título, comentando conosco que
Agora, queremos abordar, apenas, a questão da comunicação
entre as árvores.
Em seguida, conta-nos o relato atribuído ao ermitão Antíquos, que
entendia a linguagem das árvores: um triângulo amoroso entre castanheiras.
Árvore nova prometida ao velho castanheiro prefere outro castanheiro mais
jovem, que a deflora; o velho, porém, como vingança, fecunda-a através de
abelhas que carregam seu pólen, depositando-o na jovem.
Não fosse o conteúdo pouco convencional, digamos erótico, o conto tomaria
feição de inocente história infantil, muito distante de nós: “era uma vez, no
tempo em que as árvores falavam...”
4 – Conto com foco narrativo
em 1ª pessoa
Neste quarto bloco, relacionamos o conto intitulado Curiós, único em todo o livro com narrador em 1ª pessoa.
Curiós – O narrador testemunha o
amor entre curiós, o canto maravilhoso do macho, a dedicação da fêmea:
Vi-o, pela primeira vez, numa manhã de sol brilhante, quando
adentrei a capoeira para colher maracujás...
O macho é capturado e é com enorme sofrimento que a fêmea cuida dos
filhotes:
Dava
pena vê-la, saltitante, sempre piando uns piados langorosos, feitos de
saudades, enquanto apanhava sementes para os filhotes.
Consumida pela tristeza, a ave morre. O macho consegue fugir de seu
cativeiro e busca por sua companheira, mas
Num
dado momento, cortou o seu belo canto pelo meio. E caiu. Corri a acudi-lo:
estava morto. Um filete de sangue escorria-lhe do bico, manchando de vermelho
as penas da pardinha, espalhadas pelo chão.