Amigos do Fingidor

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Práticas médicas pré-colombianas




João Bosco Botelho

 

ASTECA

            A civilização asteca utilizava as ideias e crenças religiosas na explicação e no tratamento das doenças. A doença era considerada o desequilíbrio entre o bem e o mal, em cujo tratamento deveria haver participação de deuses. As principais divindades eram: deusa Tlazolteotl, que penetrava nos homens fazendo-os se contorcerem de dor; deus Xochiplli, protetor da vegetação e da fertilidade e o deus Xolótl-Nanavatzin, torturador dos homens com doenças ligadas à sexualidade.

            As práticas médicas astecas utilizavam largamente o cacto peyotl no tratamento da dor. Sabe-se que esse vegetal contém a mescalina: alcalóide alucinógeno e anestésico.

            Talvez pelo uso do anestésico, houve progresso na arte cirúrgica. Existem várias comprovações arqueológicas de amputações dos membros e craniotomias (abertura dos ossos do crânio), semelhantes às encontradas nas comunidades pré-históricas, que viveram há 10.000 anos.

A cidade de Tenochtitlán, na época da chegada dos espanhóis, dispunha de vasta rede de esgotos e banheiros públicos. Os mortos eram queimados ou enterrados fora dos muros das cidades e cada quarteirão era responsável pela limpeza e higiene das casas.

A primeira epidemia registrada, resultando na morte de milhares de indígenas, foi causada pela varíola trazida pelos espanhóis.

Entre centenas de manifestações artísticas existentes, principalmente no museu antropológico do México, encontramos em pequenas estatuetas de argila detalhadas quadros clínicos, entre eles, tumor de órbita, amputações, defeitos congênitos, doenças da pele e deformidades ósseas e musculares.

 

INCA

Diverso da civilização asteca que teve os registros escritos destruídos pelo conquistador europeu, os incas não dispunham da escrita. O envolvimento religioso nas práticas médicas da civilização inca se evidencia pelos achados de estatuetas de argila e desenhos rupestres nas ruínas encontradas no altiplano boliviano.

A crença de que os pecados eram as causas das doenças dominava os incas tanto quanto os astecas. As doenças eram o castigo dos deuses que, simultaneamente, exigiam sacrifícios, orações e confissões. Sem dúvida, apesar de terem sido realizados, o sacrifício humano não atingiu as proporções encontradas entre os astecas.

O conhecimento que os incas tinham das ervas medicinais chegou a impressionar os espanhóis, com destaque aos coletores de plantas medicinais e os boticários ambulantes que levavam à população as ervas secas e outros medicamentos de origem mineral.

Duas dessas plantas tiveram notável sucesso na medicina ocidental nos séculos seguintes: a quinaquina (Myroxylon peruiferum), cujo óleo era empregado no tratamento das feridas e que ficou conhecido nas farmácias da Europa como o “Bálsamo do Peru”, e a coca. O principal alcaloide retirado das folhas da coca, a cocaína, se tornou a base da anestesia local em todo o mundo, até os anos 1920.

Importantes representações em forma de pequenas estatuetas de argila com clara evidência de amputações dos pés e das mãos sugerem que foram práticas deliberadamente com objetivo terapêutico.

Em antigo cemitério inca, foram encontrados centenas de crânios trepanados, datando de aproximadamente 1000 anos. O estudo arqueológico mostrou que são semelhantes aos encontrados em diversos pontos da Europa. Como as cirurgias realizadas no Neolítico, a maior parte sobreviveu muito tempo após à intervenção cirúrgica.