João
Bosco Botelho
ASTECA
A
civilização asteca utilizava as ideias e crenças religiosas na explicação e no
tratamento das doenças. A doença era considerada o desequilíbrio entre o bem e
o mal, em cujo tratamento deveria haver participação de deuses. As principais
divindades eram: deusa Tlazolteotl, que penetrava nos homens fazendo-os se contorcerem
de dor; deus Xochiplli, protetor da vegetação e da fertilidade e o deus
Xolótl-Nanavatzin, torturador dos homens com doenças ligadas à sexualidade.
As
práticas médicas astecas utilizavam largamente o cacto peyotl no tratamento da dor. Sabe-se que esse vegetal contém a
mescalina: alcalóide alucinógeno e anestésico.
Talvez pelo uso do anestésico, houve
progresso na arte cirúrgica. Existem várias comprovações arqueológicas de
amputações dos membros e craniotomias (abertura dos ossos do crânio), semelhantes
às encontradas nas comunidades pré-históricas, que viveram há 10.000 anos.
A
cidade de Tenochtitlán, na época da chegada dos espanhóis, dispunha de vasta
rede de esgotos e banheiros públicos. Os mortos eram queimados ou enterrados
fora dos muros das cidades e cada quarteirão era responsável pela limpeza e
higiene das casas.
A
primeira epidemia registrada, resultando na morte de milhares de indígenas, foi
causada pela varíola trazida pelos espanhóis.
Entre
centenas de manifestações artísticas existentes, principalmente no museu
antropológico do México, encontramos em pequenas estatuetas de argila
detalhadas quadros clínicos, entre eles, tumor de órbita, amputações, defeitos
congênitos, doenças da pele e deformidades ósseas e musculares.
INCA
Diverso
da civilização asteca que teve os registros escritos destruídos pelo
conquistador europeu, os incas não dispunham da escrita. O envolvimento religioso
nas práticas médicas da civilização inca se evidencia pelos achados de estatuetas
de argila e desenhos rupestres nas ruínas encontradas no altiplano boliviano.
A
crença de que os pecados eram as causas das doenças dominava os incas tanto
quanto os astecas. As doenças eram o castigo dos deuses que, simultaneamente, exigiam
sacrifícios, orações e confissões. Sem dúvida, apesar de terem sido realizados,
o sacrifício humano não atingiu as proporções encontradas entre os astecas.
O
conhecimento que os incas tinham das ervas medicinais chegou a impressionar os
espanhóis, com destaque aos coletores de plantas medicinais e os boticários
ambulantes que levavam à população as ervas secas e outros medicamentos de
origem mineral.
Duas
dessas plantas tiveram notável sucesso na medicina ocidental nos séculos
seguintes: a quinaquina (Myroxylon
peruiferum), cujo óleo era empregado no tratamento das feridas e que ficou
conhecido nas farmácias da Europa como o “Bálsamo do Peru”, e a coca. O
principal alcaloide retirado das folhas da coca, a cocaína, se tornou a base da
anestesia local em todo o mundo, até os anos 1920.
Importantes
representações em forma de pequenas estatuetas de argila com clara evidência de
amputações dos pés e das mãos sugerem que foram práticas deliberadamente com
objetivo terapêutico.
Em
antigo cemitério inca, foram encontrados centenas de crânios trepanados,
datando de aproximadamente 1000 anos. O estudo arqueológico mostrou que são
semelhantes aos encontrados em diversos pontos da Europa. Como as cirurgias
realizadas no Neolítico, a maior parte sobreviveu muito tempo após à intervenção
cirúrgica.