Zemaria Pinto
Emília
Emília foi meu
primeiro amor. A primeira mulher que toquei – a mão de dedos fechados seguros
pela sua mão direita. Emília não tinha igual – branca de leite, cabelos
amarelo-fogo, voz de clarinete: aguda, profunda e aveludada. Emília foi meu
primeiro desejo: seus lábios finos, sob o luar, como na valsa que ainda hoje ecoa
em minha mente – imagem imaculada, em minhas retinas cansadas. 30 anos depois
reencontrei Emilia, o meu primeiro amor – e nos amamos novamente, bêbados de
desejo. 40 e tantos outros anos passados, só lembro com nitidez a sua mão
direita conduzindo-me pelas ruas esburacadas de uma cidade destruída. As mãos
brancas, os cabelos de fogo, a voz de metal. Emília, nove anos, uma mulher. Eu,
apenas o que restou de mim.