Zemaria Pinto
Rosa
Eu era menos que uma
criança quando ela se aproximou de mim e propôs namoro. Eu entendia o que era
namorar, mas não tinha ideia do que deveria fazer. Rosa foi didática: enquanto
durar a viagem, você só conversa comigo. E a gente vai se beijar? Depende, se
você merecer, quem sabe?... Seriam três dias de viagem e aquela conversa
acontecera antes mesmo de o navio sair do porto. Até o toque de recolher –
quando homens e mulheres iam cada qual para seu lado, mas as crianças ficavam
com as mães –, conversamos (e acho que namoramos) bastante. Sentado em minha
rede, procurei por ela até ser vencido pelo sono. Antes do sol raiar, acordado
pela algazarra da passarada, já estava de pé. A doce rotina estendeu-se por
toda a viagem. Quando cheguei ao meu porto – ela iria seguir por mais três dias
–, Rosa me abraçou e colou por largos segundos os lábios finos nos meus. Não
pude conter um choro convulso. Ainda hoje sonho com aqueles lábios e uma
angústia indescritível me espezinha o peito.