Amigos do Fingidor

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Lábios que beijei 2


Zemaria Pinto
Rosa



Eu era menos que uma criança quando ela se aproximou de mim e propôs namoro. Eu entendia o que era namorar, mas não tinha ideia do que deveria fazer. Rosa foi didática: enquanto durar a viagem, você só conversa comigo. E a gente vai se beijar? Depende, se você merecer, quem sabe?... Seriam três dias de viagem e aquela conversa acontecera antes mesmo de o navio sair do porto. Até o toque de recolher – quando homens e mulheres iam cada qual para seu lado, mas as crianças ficavam com as mães –, conversamos (e acho que namoramos) bastante. Sentado em minha rede, procurei por ela até ser vencido pelo sono. Antes do sol raiar, acordado pela algazarra da passarada, já estava de pé. A doce rotina estendeu-se por toda a viagem. Quando cheguei ao meu porto – ela iria seguir por mais três dias –, Rosa me abraçou e colou por largos segundos os lábios finos nos meus. Não pude conter um choro convulso. Ainda hoje sonho com aqueles lábios e uma angústia indescritível me espezinha o peito.