Zemaria Pinto
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Caetano Veloso já faz parte da história da música popular brasileira (em minúscula, mesmo: MPB é o cacete!). Mas Caetano, antes de ser o cantor excelente e o compositor exemplar, caracteriza-se por ser um polemista de boca cheia: tudo o que ele falou nos últimos 43/44 anos transformou-se em polêmica. A imprensa autofágica serve-se do velho palhaço há mais de quatro décadas para divertir a plebe ignara – que Caetano Veloso, aliás, tanto despreza.E haja opinião: Caetano já construiu/destruiu mitos (alguns dos quais sequer mereciam beijar-lhe os ossudos pés) e a imprensa canalha, covarde, vil, segue extorquindo do velho palhaço suas opiniões idiotas. Caetano tem opinião formada sobre tudo: seja sobre Woody Allen, que não sabe quem é Caetano, seja sobre Lula, que prefere música sertaneja e forró. Caetano só não tem opinião sobre essa imprensa abjeta, porque ele se alimenta dela (sei do cacófato), como um verme que se alimenta da podridão do seu entorno. Caetano é um parasita desse corpo apodrecido chamado imprensa, que precisa de Caetano para continuar alimentando o zé povim estúpido com polêmicas idiotas, vazias, manipuladoras. É um podre poder.
Certo está a Partimpim: “Vamos comer Caetano!”, mas só quando ele estiver cantando (nem que seja o Peninha!), porque quando ele fala é amargo, azedo, venenoso – podre. Certo estava aquele personagem do Almodóvar (amicíssimo de Caetano), em Hable con ella, que, após ouvir o velho palhaço cantando La Paloma (aquela do “cucurrucucu”), diz, com os olhos marejados: “Ese Caetano me encrespa los pelos del culo.”