A gente não quer só comida.
A gente quer comida, diversão e arte.
A gente quer saída para qualquer parte.
A gente não quer só comida.
A gente quer bebida, diversão, balé.
(Fragmento da música “Comida”, de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sergio Brito)
Os fatos mostraram que a propaganda socialista-comunista, prometendo comida, educação e moradia para todos, tendo à frente o simbolismo da bandeira vermelha com a foice e o martelo, estava muito distante da realidade vividas pelos povos da Europa do leste.
Os sinais do fracasso socialista-comunista
O processo da ruína da ordem socialista-marxista, no leste da Europa, foi claramente mostrado ao mundo, em especial, aos que possuíam informações suficientes para interpretar os fatos, em dois momentos distintos:
– O levante, em 1956, contra o presidente do partido comunista húngaro Matias Rikosi;
– A revolta da primavera de Praga, no dia 20 de agosto de 1968, quando os tanques soviéticos entraram na capital da Tchecoslováquia para impedir as propostas reformistas do dirigente Alexander Dubcek.
O muro
Entre as muitas consequências da derrota do nazi-fascismo, destacou-se a divisão político-territorial da Alemanha em dois segmentos: a parte oriental ficou sob a guarda russa e a ocidental na custódia da Inglaterra, França e EUA.
Nos primeiros anos após a divisão territorial não havia dificuldade para cruzar as fronteiras. Os empecilhos foram aumentando a partir da revolta popular, em 1953, na Alemanha Oriental, contra o partido comunista. Com a gradativa perda das liberdades pessoais, a moradia, a comida e a escolaridade garantidas perderam o sentido.
Sob a égide de que casa, comida e escola não eram tudo o que todos desejavam, até 1960, ocorreu a fuga de quatro milhões de pessoas para o lado alemão ocidental, incluindo os milhares de cientistas, pesquisadores e técnicos especializados.
No dia 13 de agosto de 1961, para tentar conter o maior esvaziamento populacional da Alemanha Oriental, o Partido Comunista da URSS ordenou a construção do muro de Berlim. Em poucos meses ergueu-se a gigantesca barreira de três metros de altura, com 160 quilômetros de extensão, rodeada por área em torno de 200 metros quadrados, equipada com detectores eletrônicos de calor, minas e arame farpado.
O muro conteve parcialmente a fuga na busca da liberdade. Mesmo após o término da edificação, 188.000 pessoas ainda conseguiram escapar. Os métodos usados foram belos e surpreendentes: balão artesanal confeccionado durante três longos anos, túneis cavados na calada da noite, asilo político nas embaixadas estrangeiras e, simplesmente, enfrentamento das metralhadoras ao escalarem o muro da vergonha.
Desgraçadamente, 187 pessoas foram metralhadas e mortas ao tentarem buscar, a qualquer preço, mais liberdade do outro lado do muro. O alucinado ditador Eric Honecker, presidente do Partido Comunista da Alemanha Oriental, autor da célebre frase “O muro vai durar um século!”, foi responsabilizado pela ordem para matar, sem vacilação, os que tentaram viver longe dos comunistas.
Homenagem aos mortos do muro.
Vendo de perto a ausência da liberdade
Nas férias do verão de 1981, durante o doutoramento em Paris, estive com a minha família na Alemanha Ocidental, junto ao muro. Ao chegarmos, presenciamos uma cena que permanece viva até hoje: sobre uma plataforma de madeira, um homem jovem, fortemente abraçado pela esposa, levantando sobre a cabeça uma criança de poucas semanas, por meio de gritos e gestos enfurecidos, ambos chorando convulsivamente, gritavam: “Esse é o seu neto! Seu neto! Um dia, Deus permitirá nosso reencontro longe desses assassinos!”
A queda do muro de Berlim
Em junho de 1989, ocorreu um novo e espontâneo movimento de fuga da Alemanha Oriental. Milhares de homens e mulheres cruzaram as fronteiras austríacas e húngaras, menos vigiadas. Cinco meses depois, o muro foi derrubado com a força descomunal das picaretas de milhares de pessoas que gritavam a esperança de mais liberdade.
Como na queda da Bastilha, em 1789, não houve resistência. As contradições internas do sistema socialista-comunista alcançaram um ponto insuportável. Nas palavras de Egon Krenz, presidente do partido comunista alemão, a quem coube concretizar o desmanche do regime: “Aprendemos uma lição que não vamos esquecer!”
A ruína do positivismo marxista
No Leste da Europa, o resto veio mais rapidamente do que todos os historiadores poderiam esperar: dissolução dos Partidos Comunistas, as muitas universidades do socialismo-comunismo fecharam as portas, derrocada da gerontocracia comunista, os tanques soviéticos partiram de Praga, os julgamentos “éticos” alimentados pela calúnia obsequiosa foram tornados públicos, os restos mortais dos que resistiram ao stalinismo foram exumados como heróis, restaurada a liberdade de consciência e religião e os dissidentes tchecos e húngaros deixaram de ser loucos.
Finalmente, os registros da KGB (polícia política da URSS) indicaram mais de 4 milhões de assassinatos e como a Stasi (polícia política da Alemanha Oriental) fabricou o escândalo homossexual do general Kiessling, do Alto Comando da OTAN.
Novos muros
A frase do historiador alemão Smyser, no livro From Yalta to Berlim, ajudará as futuras gerações a não esquecer: “A queda do muro é desses eventos que dividem épocas. Talvez os historiadores escolham aquela noite como o fim da Idade Contemporânea.”
Infelizmente, a lição da queda do muro Berlim não foi suficiente aos governos. Sob novos pressupostos políticos e ideológicos, também desumanos, outros muros foram construídos em várias fronteiras, restringindo as liberdades:
– Entre os Estados Unidos e o México, para conter o fluxo de imigrantes ilegais;
– Em Ceuta e Malilla, cercas metálicas com holofotes potentes e sensores, separando a Espanha do Marrocos;
– Entre Israel e a Palestina, para restringir o acesso de palestinos aos territórios em conflito militar;
– Entre as duas Coreias.
Todos os muros que cerceiam as liberdades são frágeis! Mais cedo ou mais tarde, cairão como castelos de cartas!