Tenório Telles
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O cientista Djalma Batista entendia a Amazônia como uma esfinge a ser decifrada – tarefa que só seria vencida com a elaboração de um saber adequado às especificidades regionais. Defendia, nos anos 70 do século passado, a necessidade de se promover ações educativas capazes de proporcionar o preparo técnico e científico que permitiria o aproveitamento sustentável de sua biodiversidade.
Nesse empreendimento de decifração do universo amazônico, os estudos sobre os processos culturais na região têm ajudado a desvelar a complexidade das manifestações artísticas e o simbolismo da festas populares como fatores fundamentais da constituição da identidade regional. Prova disso são as reflexões de pesquisadores como João de Jesus Paes Loureiro, Benedito Nunes, Márcio Souza, Renan Freitas Pinto, Marilene Corrêa, Edinea Mascarenhas Dias, Neide Gondim.
O livro Festas amazônicas, de Wilson Nogueira, é tributário dessa nova realidade reflexiva sobre a Amazônia, em que o debate sobre a identidade, a cultura e as questões socioeconômicas tem ocupado o foco de estudiosos de diversas áreas do conhecimento. A visão expressa pelo autor desta obra não se encerra na análise unilateral do tema enfocado, mas amplia-se para uma perspectiva que engloba o regional e os desdobramentos do globalismo: “A Amazônia hoje, como natureza, sociedade e cultura, é, também, o resultado do processo histórico de expansão do modo de produção capitalista e das suas formas de intervenção: mercantilismo, colonialismo, imperialismo, internacionalismo e globalismo”.
Wilson Nogueira suscita elementos novos em suas reflexões sobre o processo cultural amazônico, problematizando as festas regionais em suas vinculações com as demandas econômicas, ao mesmo tempo em que “verifica as relações das festas populares com o mercado capitalista na Amazônia”, fundamentando seus argumentos “na confluência da história, da economia, da sociologia, da antropologia e da comunicação social”, associando-os à sua sensibilidade e olhar de “pesquisador participante”.
A pretexto de estudar as manifestações populares mais expressivas da Amazônia, o escritor, na verdade, empreende uma acurada reflexão sobre a complexidade e as contradições decorrentes do choque das demandas impostas pelo capitalismo e o universo simbólico das populações amazônicas, fato que não passou despercebido ao olhar da professora Marilene Corrêa que, ao comentar o trabalho, enfatiza o fato de o autor ter escolhido “olhar a Amazônia por meio de suas festas populares”. O livro de Wilson Nogueira é revelador sobre os processos socioculturais em curso no espaço regional, que ajudam a revelar a esfinge, decifrando-lhe os segredos, enigmas e perspectivas de futuro. Pela seriedade e rigor de seu trabalho reflexivo, com foco na realidade regional, Nogueira constrói sólida reputação intelectual e se destaca como pesquisador comprometido com os problemas e o futuro da Amazônia.