Marco Adolfs
Cheguei ao Himalaia, como estava previsto, para uma série de meditações, com orientação de um guia. Era uma quarta-feira cinza, de nuvens baixas e carregadas, quando entrei no enorme mosteiro Tibetano que mais parecia ser um hotel. Caminhando por um extenso corredor repleto de celas, reparei que nas mesmas havia em seu interior um turista branquelo como eu, com o mesmo intuito de meditar e que também tinha desembolsado alguns milhares de dólares para passar por isso.
Meu corpo sentia a pressão da altitude: um formigamento que me subia pelas pernas com a cabeça começando a doer. Mas não liguei muito para isso, face às novidades daquele mundo fascinante. Recepcionado por um monge, adentrei a minha cela apenas com a minha mochila de roupas e este note-book inseparável, meu único contato com o mundo exterior. Lá fora, eu conseguia divisar uma parte da Cordilheira do Himalaia, a mais alta cadeia montanhosa do mundo. Fiquei sabendo que o nome Himalaia vem do sânscrito e significa "morada da neve". E isso era também preocupante, já que o frio era perturbador e parecia querer entrar nos meus ossos. Pensei então e rapidamente: como é que eu conseguiria meditar em meio às essas paredes geladas e com tanto frio? Liguei este note-book e comecei a escrever, esperando a reunião convocada para daqui a trinta minutos. Não preciso dizer que tremia de frio com as pontas dos dedos enregelados.
Lhasa, 11 de novembro de 2009