Amigos do Fingidor

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Uma mulher especial
Tenório Telles


Tem muita gente que acha que a vida se justifica pela quantidade de poder e dinheiro que uma pessoa for capaz de acumular. Ou que uma sociedade só é reconhecida se for próspera e rica economicamente e, assim, gerar conforto material. Essa forma de pensar está enraizada na alma dos indivíduos, entranhada no seu ser e no seu coração. O sentir, o olhar, os sonhos – tudo está plasmado por essa ideologia feita de indiferença, egoísmo e solidão, que nega a bondade, a fraternidade, os valores espirituais, em que o que importa são os fins, o sucesso a qualquer preço, o ter.

O triunfo dessa lógica não é sem resistência. Como faróis na escuridão, homens e mulheres, nos bairros, nos campos, nas margens dos rios e nos lugares mais longínquos deste planeta, carregam em seus corações a chama da esperança e da fé na possibilidade de construção de um mundo diferente e mais humano, fundado na generosidade, na compaixão, no respeito ao próximo e no amor ao conhecimento. Eles representam a negação da violência, do individualismo e da intolerância. Suas verdades são antídotos ao veneno do preconceito, da arrogância e do sentimento de superioridade daqueles que acham que são melhores porque têm dinheiro, posição, status ou pela cor da pele.

A vida não vale por essas coisas, nem por essas pessoas. Na verdade, essas criaturas contribuem para a existência ser pior: prejudicam os outros em razão de seus interesses mesquinhos. Esse tipo de gente é a erva daninha do jardim da existência. A “pedra no meio do caminho”, da qual nos fala Drummond no seu célebre poema. É obstáculo no percurso dos que ousam ir mais longe e também espinho na caminhada daqueles que carregam no peito a bondade e trabalham pelo bem comum. Gente desse jaez conspira, atravanca e fere quem encontra pelo caminho, ou quem imagina possa ser um risco aos seus propósitos.

Felizmente na vida nem todos são erva daninha, pedra ou espinho. Há os que são semente, flores e passarinhos. Ajudam a plantar, cuidam, partilham seus frutos e nos alegram com a canção de seus sonhos. Ivânia Vieira faz parte dessa linhagem nobre de seres humanos. Sua prática de vida é afirmativa de seus compromissos com a mudança e com a luta dos homens e mulheres excluídos de seus direitos, do acesso à informação e privados da cidadania. Jornalista e professora da Universidade Federal do Amazonas, Ivânia é uma das mulheres mais lúcidas e coerentes desta terra. Cidadã consciente do seu papel no mundo, sua prática social é marcada pela solidariedade e atitude crítica em relação às injustiças e brutalidades deste tempo ultrajado pela violência e banalização do mal.

Seu exemplo de vida é um testemunho de que o ser humano pode ser diferente e fazer a diferença. Como professora, personifica a conduta e o cuidado dos mestres: é, na verdade, uma educadora, compromissada não só com o dever de informar, mas de formar seus alunos, orientando-os para um entendimento crítico do mundo, para que sejam leitores ciosos da realidade e profissionais conscientes de suas responsabilidades. O trabalho dessa semeadora de luz não se resume à sala de aula e às suas atividades como jornalista. Dedica parte de seu tempo a ações sociais, tomando partido da luta das mulheres, dos trabalhadores e dos jovens. Exemplo disso é sua participação no projeto Comunicadores Populares de Base, na Zona Leste, em que orienta dezenas de jovens para que sejam protagonistas sociais e utilizem as ferramentas da comunicação social para ajudar as suas comunidades a refletir sobre suas demandas e seus anseios. Ivânia Vieira honra e dignifica o milagre vital com que foi brindada pela providência.