Amigos do Fingidor

sábado, 15 de dezembro de 2012

Cruz e Sousa não é mais patrono na Academia Amazonense de Letras


Zemaria Pinto
 

A ignorância perdoa-se; a estupidez, não.
(João Sebastião, poeta nefelibata, filósofo de boteco, profeta do caos)
 

O advogado e jornalista Júlio Antônio Lopes tomou posse, na noite de ontem, como o mais novo imortal na Academia Amazonense de Letras (AAL), na qual passa a ocupar a cadeira 23, que tem como patrono Cruz e Silva (...)
(Jornal A crítica, página A8, edição de 15/12/2012)

 

Eu já desconfiava que, em algum momento após aquele 25 de setembro de 2011 quando falecia o amigo Alencar e Silva, a cadeira 23 da AAL havia trocado de patrono.
 
Cruz e Sousa (1862-1898).
 
Na próxima oportunidade, considerando que a AAL será a única academia de letras – desde a Brasileira até a mais humilde das academias municipais – a não ter o extraordinário poeta negro entre seus patronos, reivindicarei o seu nome para a cadeira 27, que ocupo, substituindo Tavares Bastos, que o tempo tratou de obscurecer. 

Um poema de Cruz e Sousa aos beócios: 

Oh! trânsfugas do bem que sob o manto régio
manhosos, agachados – bem como um crocodilo,
viveis sensualmente à luz dum privilégio
na pose bestial dum cágado tranquilo.
 

Eu rio-me de vós e cravo-vos as setas
ardentes do olhar – formando uma vergasta
dos raios mil do sol, das iras dos poetas,
e vibro-vos à espinha – enquanto o grande basta,
 

O basta gigantesco, imenso, extraordinário –
da branca consciência – o rútilo sacrário
no tímpano do ouvido – audaz me não soar.
 

Eu quero em rude verso altivo adamastórico,
vermelho, colossal, d’estrépito, gongórico,
castrar-vos como um touro – ouvindo-vos urrar!

(“Escravocratas”, publicado no livro Obra Completa (1961). Poema integrante da série O Livro Derradeiro.)


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