Amigos do Fingidor

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O mundo contra o tabagismo



João Bosco Botelho

 

A crença no poder mágico da fumaça, produzida pela açäo do fogo em alguns vegetais, foi  uma constante, desde tempos imemo­riais, no universo mítico de muitas sociedades. 

Especificamente sobre o fogo, é possível que a atençäo comum tenha sido despertada pelo amorfismo incontrolável. De maneira diversa dos elementos materiais com formas domáveis, o fogo amorfo, por si só, impedia qualquer  contato manual. O produto da combustäo, a fumaça, de igual modo mantinha a imprevisibilidade da forma; ao contrário do fogo, era passível de ser possuída por quem a aspirasse.

Os relatos dos cronistas no Brasil colônia, muitos acompanha­dos de icnogravuras, narraram o uso do tabaco nos ritos terapêuticos e divinatórios. Os pajés se comunicavam com os espíritos, para curar e adivinhar, através da força embriagadora da fumaça do tabaco queimado.

A passagem do tabagismo do espaço sagrado para o profa­no se deu, no Brasil, com a chegada do colonizador. O vício de fumar como instrumento de prazer foi assinalado por Cardim, no século 16: “Costumam esses gentios beber fumo de petigma (tabaco) por, outro nome erva santa... fica como canudo de cana cheio desta herva, e pondo‑lhe fogo na ponta metem o pau grosso na boca e assim chu­pando e bebendo aquele fumo, e o tem por grande mimo e regalio”.

Durante a ocupaçäo holandesa, do Nordeste brasileiro, na primeira metade do séuclo 17, pelas tropas de Joäo Maurício de Nassau, o médico Guilherme Piso, chefe dos serviços médicos das Indias Ocidentais, registrou: “A célebre erva Tabaco ou Petum, chamada pelos brasileiros Petume, em quase todas as Indias Ocidentais é, desde remotos tempos, estimada pelos próprios íncolas para sarar feridas. Logo que os europeus souberam disto, pesquisando‑lhe as virtudes recônditas, aplicaram as folhas frescas, bem como o sumo das mesmas, a usos humanos; depois secas, nos abusos e prazeres também. De sorte que agora, como o vento hibernal,  o fumo do tabaco vicia o orbe universal” . 

O consumo, em 1920, quase nulo no sexo feminino, alcançou a fantástica cifra, em 1970, de duas mil unidades por adulto.

A atenção das autoridades mundiais de saúde pública foi alertada, pela primeira vez, pelo Relatório de Hammond e Horn, em 1954, financiado pelo American Cancer Society, seguido pelo do Royal College of Phisicians, da Inglaterra, em 1962, descrevendo a gravidade do tabagismo.

Nos anos 1965, a comunidade científica percebeu a brutal mudança nas incidências dos cânceres, todos ligados ao tabagismo: boca, laringe, pulmäo e bexiga.

A patir dos anos 1970, muitos países iniciaram de forma coordenada o combate ao tabagismo. O mundo conseguiu, trinta anos depois, postar o fumante como alguém desprezível.

O Brasil é reconhecido mundialmente como um exemplo na luta contra o tabagismo.  

Independete das crenças políticas, ideológicas e religiosas, o mundo está unido contra o tabagismo.