Jorge Tufic
III
PARTE
O
MOSAICO E A ESFINGE
III.1 - O MOSAICO E A ESFINGE
No “mosaico cultural” dos
tempos modernos, com a liberdade de expressão motivando o aparecimento de novos
conceitos para avaliar o passado, suas fórmulas e modelos ultrapassados, a
literatura e as artes começaram a mover-se dentro de uma atmosfera mais livre e
mais renovadora. Os movimentos de vanguarda (vanguarda natural), ingressavam no
Brasil (transformando-se, às vezes, em vanguarda provocada), trazendo consigo
palavras-chaves do tipo “convencional” e “progressista”. Surgem então os
primeiro inovadores, tocados pelos substantivos do automatismo criador dos
poetas surrealistas. Reconheciam eles, aos poucos, que já havia passado a época
das carruagens e do chapéu de palinha.
Os primeiros anos do século
XX, em nosso país, indicam, assim, a presença de um volume considerável de boas
informações do Velho Mundo, trazidas – como não poderia deixar de ser – por
brasileiros que estudavam na Europa. O ponto alto de tais informações, oriundas
sobretudo do universo artístico, foi sintetizado por Graça Aranha, em sua
histórica conferência no teatro Municipal de São Paulo, sob o título de “A
Emoção Estética na Arte Moderna”. Dizia o autor de Canaã: “Cada um é livre para criar e manifestar o seu sonho, a sua
fantasia íntima desencadeada de toda regra, de toda a sanção. O cânon e a lei são substituídos
pela liberdade absoluta que nos revela, por entre mil extravagâncias, maravilhas
que só a liberdade sabe gerar. Ninguém pode dizer onde o erro ou a loucura na
Arte, que é a expressão do estranho mundo subjetivo do homem.
Com estas palavras decisivas
foi, portanto, inaugurada a Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, e as
correntes e movimentos artísticos e literários posteriores, voltados para a
terra e para o homem do planeta de Makunaíma, consertaram os rumos do barco ou
da “canoa transformadora” (como os Dessana classificam sua viagem do nada para
o mundo de seus antepassados), em direção dos temas e valores nacionais.
Após o ano de 1922, três
foram os movimentos de poesia de vanguarda no Brasil: a poesia concreta, o
poema/processo e o praxismo. A poesia concreta “era feita com palavras isoladas
no espaço branco da página, criando, entre suas relações, um ideograma
significante” (“Vocabulário Técnico de Literatura”, Assis Brasil, id).
Abolia-se o verso pelos “signos plásticos”. Uma fusão das artes perseguindo
soluções contemporâneas da ciência e da tecnologia. No poema/processo, a poesia
é um ato simultâneo à criação do poema. O poema deixa de ser mero suporte da
poesia. Aqui, sendo projeto, o poema/processo vai além do “concretismo” porque
dispensa a contribuição da palavra. Dissocia ele a Poesia (estrutura) do Poema
(processo). Separa o que é língua de linguagem dentro da literatura. A Era da
Informática se coloca (ou antecipa) a leitura descontínua da vida moderna, face
ao computador. No praxismo, um movimento que se realiza mais em torno de seu
criador (Mário Chamie), numa espécie de jogo entre o verso e a palavra, dá-se
ênfase especial às soluções fônicas, “segundo três condições de ação: a) o ato
de compor; b) a área de levantamento da composição; e c) ato de consumir”
(idem). Clodomir Monteiro, ao nosso ver, com mais de cinco livros de poemas
publicados, segue de perto e recria os passos do mestre. Seu último livro,
intitulado AcreDito, condiciona uma textura de fundo épico sobre o drama do
seringueiro acreano.