Amigos do Fingidor

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Curso de Arte Poética


Jorge Tufic
 
III PARTE

O MOSAICO E A ESFINGE


III.1 - O MOSAICO E A ESFINGE

                   No “mosaico cultural” dos tempos modernos, com a liberdade de expressão motivando o aparecimento de novos conceitos para avaliar o passado, suas fórmulas e modelos ultrapassados, a literatura e as artes começaram a mover-se dentro de uma atmosfera mais livre e mais renovadora. Os movimentos de vanguarda (vanguarda natural), ingressavam no Brasil (transformando-se, às vezes, em vanguarda provocada), trazendo consigo palavras-chaves do tipo “convencional” e “progressista”. Surgem então os primeiro inovadores, tocados pelos substantivos do automatismo criador dos poetas surrealistas. Reconheciam eles, aos poucos, que já havia passado a época das carruagens e do chapéu de palinha. 

                   Os primeiros anos do século XX, em nosso país, indicam, assim, a presença de um volume considerável de boas informações do Velho Mundo, trazidas – como não poderia deixar de ser – por brasileiros que estudavam na Europa. O ponto alto de tais informações, oriundas sobretudo do universo artístico, foi sintetizado por Graça Aranha, em sua histórica conferência no teatro Municipal de São Paulo, sob o título de “A Emoção Estética na Arte Moderna”. Dizia o autor de Canaã: “Cada um é livre para criar e manifestar o seu sonho, a sua fantasia íntima desencadeada de toda regra, de toda  a sanção. O cânon e a lei são substituídos pela liberdade absoluta que nos revela, por entre mil extravagâncias, maravilhas que só a liberdade sabe gerar. Ninguém pode dizer onde o erro ou a loucura na Arte, que é a expressão do estranho mundo subjetivo do homem. 

                   Com estas palavras decisivas foi, portanto, inaugurada a Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, e as correntes e movimentos artísticos e literários posteriores, voltados para a terra e para o homem do planeta de Makunaíma, consertaram os rumos do barco ou da “canoa transformadora” (como os Dessana classificam sua viagem do nada para o mundo de seus antepassados), em direção dos temas e valores nacionais. 

                   Após o ano de 1922, três foram os movimentos de poesia de vanguarda no Brasil: a poesia concreta, o poema/processo e o praxismo. A poesia concreta “era feita com palavras isoladas no espaço branco da página, criando, entre suas relações, um ideograma significante” (“Vocabulário Técnico de Literatura”, Assis Brasil, id). Abolia-se o verso pelos “signos plásticos”. Uma fusão das artes perseguindo soluções contemporâneas da ciência e da tecnologia. No poema/processo, a poesia é um ato simultâneo à criação do poema. O poema deixa de ser mero suporte da poesia. Aqui, sendo projeto, o poema/processo vai além do “concretismo” porque dispensa a contribuição da palavra. Dissocia ele a Poesia (estrutura) do Poema (processo). Separa o que é língua de linguagem dentro da literatura. A Era da Informática se coloca (ou antecipa) a leitura descontínua da vida moderna, face ao computador. No praxismo, um movimento que se realiza mais em torno de seu criador (Mário Chamie), numa espécie de jogo entre o verso e a palavra, dá-se ênfase especial às soluções fônicas, “segundo três condições de ação: a) o ato de compor; b) a área de levantamento da composição; e c) ato de consumir” (idem). Clodomir Monteiro, ao nosso ver, com mais de cinco livros de poemas publicados, segue de perto e recria os passos do mestre. Seu último livro, intitulado AcreDito, condiciona uma textura de fundo épico sobre o drama do seringueiro acreano.