Jorge Tufic
II.8
- A NATUREZA DAS CLASSES DE PALAVRAS
Este
espaço do nosso Livro poderia estar sendo preenchido com novas achegas sobre o
indispensável “equipamento” do mestre que fosse obrigado, por profissão, a
conhecer e analisar um poema, de acordo com as palavras e seus valores
representativos. Indicamos para isso, no entanto, os livros “Comunicação
& Literatura”, de Nelly Novaes Coelho, e “Comunicação em prosa moderna”, de
Othon M. Garcia. Isto, é claro, só deve ser indicado, de preferência, a
críticos e professores de Literatura. Aos produtores ou artistas, cabe apenas
saber que, para qualquer tipo de construção e/ou desconstrução poética, haverá
ou não um modelo diferente de análise, enquanto que deixa de existir,
praticamente, um juízo de valor que recomende a qualidade de um poema para um
determinado modelo de análise. Introduzido de vez pelo Estruturalismo, qualquer
objeto de análise, poema ou estrutura poemática, vai do mais simples ao mais
complexo ( como se demonstra na parte final deste volume).
VAMOS VER O INVERSO DO VERSO?
( ou a “ponte do verbal para o icônico?”)
A
paronomásia rompe o discurso (hipotaxe), tornando-o espacial (parataxe),
criando uma sintaxe não linear, uma sintaxe analógico-topológica. Num poema, a
paronomásia horizontal (aliteração, coliteração) cria a melodia, enquanto que a
paranomásia vertical é responsável pela harmonia. A rima constitui a
paronomásia vertical mais comum. “Un coup de dés”, de Mallarmé, e os poemas
concretos, trabalham com paronomásias audiovisuais horizontais e verticais. A
repetição dos sons sempre é uma repetição que se dá no tempo. Esta repetição
dos sons no tempo cria uma rede especial rítmica – um diagrama, uma sintaxe
topológica. Ritmo é ícone. O som com marcação de tempo é ritmo, assim como é
ritmo a marcação espaço-temporal (na dança, no cinema ou numa cadeia de
montagem) e a espacialização do espaço (na arquitetura ou na pintura). O ritmo
é um ícone relacional. Resumindo, a similaridade sonora gera semelhanças e
correspondências espaciais – e aqui nós temos o fundamento principal da sintaxe
icônica subjacente na poesia e em certos tipos de prosa, com as obras Tristram
Shandy, Ulisses e Finnegans Wake. A paronomásia seria a ponte
verbal para o icônico; por esta mesma razão, é considerada “poética”,
“literária” e, principalmente, “não-científica”... Sim, muitos acreditam que a
ciência é essencialmente verbal. Parecem não se dar conta do fato de que a
ciência verbalizada nada mais é do que uma tradução da ciência icônica
(Semiótica & Literatura, Décio Pignatari, Cortez & Moraes, 2ª ed.,
SP, 1979).