Amigos do Fingidor

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Curso de Arte Poética


Jorge Tufic
 
II.8 - A NATUREZA DAS CLASSES DE PALAVRAS

 

 

                   Este espaço do nosso Livro poderia estar sendo preenchido com novas achegas sobre o indispensável “equipamento” do mestre que fosse obrigado, por profissão, a conhecer e analisar um poema, de acordo com as palavras e seus valores representativos. Indicamos para isso, no entanto, os livros “Comunicação & Literatura”, de Nelly Novaes Coelho, e “Comunicação em prosa moderna”, de Othon M. Garcia. Isto, é claro, só deve ser indicado, de preferência, a críticos e professores de Literatura. Aos produtores ou artistas, cabe apenas saber que, para qualquer tipo de construção e/ou desconstrução poética, haverá ou não um modelo diferente de análise, enquanto que deixa de existir, praticamente, um juízo de valor que recomende a qualidade de um poema para um determinado modelo de análise. Introduzido de vez pelo Estruturalismo, qualquer objeto de análise, poema ou estrutura poemática, vai do mais simples ao mais complexo ( como se demonstra na parte final deste volume).



VAMOS VER O INVERSO DO VERSO?
( ou a “ponte do verbal para o icônico?”)

                   A paronomásia rompe o discurso (hipotaxe), tornando-o espacial (parataxe), criando uma sintaxe não linear, uma sintaxe analógico-topológica. Num poema, a paronomásia horizontal (aliteração, coliteração) cria a melodia, enquanto que a paranomásia vertical é responsável pela harmonia. A rima constitui a paronomásia vertical mais comum. “Un coup de dés”, de Mallarmé, e os poemas concretos, trabalham com paronomásias audiovisuais horizontais e verticais. A repetição dos sons sempre é uma repetição que se dá no tempo. Esta repetição dos sons no tempo cria uma rede especial rítmica um diagrama, uma sintaxe topológica. Ritmo é ícone. O som com marcação de tempo é ritmo, assim como é ritmo a marcação espaço-temporal (na dança, no cinema ou numa cadeia de montagem) e a espacialização do espaço (na arquitetura ou na pintura). O ritmo é um ícone relacional. Resumindo, a similaridade sonora gera semelhanças e correspondências espaciais e aqui nós temos o fundamento principal da sintaxe icônica subjacente na poesia e em certos tipos de prosa, com as obras Tristram Shandy, Ulisses e Finnegans Wake. A paronomásia seria a ponte verbal para o icônico; por esta mesma razão, é considerada “poética”, “literária” e, principalmente, “não-científica”... Sim, muitos acreditam que a ciência é essencialmente verbal. Parecem não se dar conta do fato de que a ciência verbalizada nada mais é do que uma tradução da ciência icônica (Semiótica & Literatura, Décio Pignatari, Cortez & Moraes, 2ª ed., SP, 1979).