Jorge Tufic
II.5.4
- A METONÍMIA E A SINÉDOQUE
Não
se deve confundir a metonímia com a metáfora, pois a figura metonímica tem o
seu objeto real e a este objeto se
acha ligada pela nomeação ou “transformação” daquilo ou de algo que com ele se
relacione (de causa a efeito, de matéria a objeto, de continente a conteúdo, de
ação a sujeito, do genérico ao específico etc.). Como Waterloo, que substitui a
derrota de Napoleão Bonaparte no poema “O Livro e a América”, de Castro Alves:
O Livro – este audaz guerreiro
que conquista o mundo inteirosem nunca ter Waterloo...
Sinédoque
é a figura do todo que nomeia a parte, ou da parte que nomeia o todo. Vela por barco; água por lágrima etc. Dirigindo-se a uma área específica do ensino
de Literatura, alguns mestres advertem tanto para o significado (lógico) das
palavras, quanto para a significância
destas como instrumentos de poesia, onde a semelhança aparente metáfora/metonímia/sinédoque,
confunde os leitores. Será, portanto, fundamental observar as diferenças entre
os planos de idealização e a realidade em foco.
II.5.5
- O SÍMBOLO
Como
significado ou representação de algo, o símbolo, em poesia, concretiza-se em,
ou passa de metáfora a símbolo pela repetição ou pela incorporação de elementos
afetivos, estéticos, entre outros, com força necessária para fixar, geralmente
numa só palavra, o terror ou a beleza dos fenômenos evocados. Nelly Novaes
Coelho exemplifica o “corvo” como símbolo da morte e do jazigo, citando Bocage.
Na galeria dos animais – escreve o professor e crítico Othon M. Garcia –
quantos não são os símbolos ou personificações de sentimentos, idéias, vícios e
virtudes do homem? A águia, talento,
perspicácia e também velhacaria; o cágado
e a lesma, lentidão; o cão, servilismo e também fidelidade ao
homem, seu senhor; o chacal,
voracidade feroz; a coruja,
sabedoria; o camaleão, mimetismo e
versatilidade de opiniões; o leão,
coragem e bravura; a lebre, ligeireza;
o rouxinol, canto melodioso; o touro, força física; a pomba, inocência indefesa; a víbora, malignidade... Símbolos... Símbolos...
(Comunicação em prosa moderna, Othon M.
Garcia, 7ª ed., Fundação Getúlio Vargas).
II.5.6
- A ALEGORIA
Figura
inseparável da fábula e da parábola, a alegoria detém um poder de
transfiguração total. Suas normas, como espécie de figura, remontam a
Quintiliano, que a dividia em pura (a
um passo do enigma) e mista, esta última provida de indicações
marginais possibilitando a associação da coisa descrita com a subentendida
(PDAP, Geir Campos, etc). Com mais pormenores, explica Nelly Novaes Coelho, ob.
cit.: “Na transfiguração alegórica já não se trata de um termo real, mas de um
todo real (A) que se oculta sob um todo ideal (B). Na alegoria o plano literal
vale por si, mas só adquire a sua real significação quando transposto para o
plano figurativo. Veja-se, por exemplo, o soneto de Olavo Bilac, “Sahara Vitae”
(= o Saara da vida), onde temos – no plano literal da figuração poética – a
visão de uma caravana que atravessa o deserto e que é exterminada pelo simum,
vento muito quente e avassalador que sopra do centro da África para o norte.
Pode-se afirmar que tal soneto é todo ele expresso com signos reais (= a
caravana, o céu, o sol, o simum etc.), porém o valor essencial de sua mensagem
poética repousa em seu plano significativo transliteral: a visão da vida humana
como uma dura e sofrida caminhada para a morte. Aceito nessa perspectiva, ele
passa a ser lido como uma série de sugestivos signos metafóricos.”
Caindo
em desuso e transformando-se desde a Antiguidade Clássica e a Idade Média, a
alegoria assume, na prosa, “formas especiais” como o apólogo, a parábola e a
fábula.