Chamada para uma apresentação de Cidadão Kane. 30 anos depois, o Don Corleone de Marlon Brando lembraria o Kane de Orson Welles. |
O roteiro de Cidadão Kane faz uso de um expediente
que viria a ser banalizado (e batizado) por Alfred Hitchcock: o MacGuffin –
algo que se procura por todo o filme, mas que, ao final das contas, não tem
importância nenhuma para o seu desfecho. O MacGuffin de Kane é o significado da palavra “Rosebud”, a última palavra
pronunciada por Kane, ao morrer, logo no início do filme. Todo o filme é a
busca pelo significado dessa palavra e a reconstituição da vida do magnata. E,
claro, o filme termina sem que se encontre o tal significado – mas nós,
espectadores, ficamos sabendo o que é “Rosebud”. Para nossa decepção, aliás,
pois não havia naquela palavra nenhuma intenção metafísica ou mesmo
psicanalítica.
Arte real-socialista ajudou a disseminar a lenda de que Welles era comunista. |
Cidadão
Kane
é uma festa para os olhos e para a mente. O roteiro de Welles e Herman J.
Mankiewicz, associado à extraordinária fotografia de Gregg Toland, cujo nome
aparece nos roteiros junto ao do diretor Welles, no derradeiro fotograma, e à
montagem ensandecida de Robert Wise, que brilharia mais tarde como diretor de Amor, sublime amor, entre outros
clássicos, ainda hoje provoca vertigens. Literalmente. Cidadão Kane é uma viagem entre o paraíso artificial de Xanadu e o
inferno das inúmeras perdas de Charles Foster Kane, das quais a única
verdadeiramente importante era Rosebud.
(Zemaria Pinto)