Zemaria Pinto
Negra
Esqueci o seu nome. Nem
sei mesmo se alguma vez o soube. Só o seu rosto redondo encimando o corpo negro
me vem nítido à memória. Mas algo me incomoda nessas lembranças: a resistência
pétrea de sua carne. Tudo nela era rijo como pedra. Não de uma dureza maleável,
como se esperaria de um corpo quase adulto. Pedra fria. Quando penetrei seu
corpo, naquela tarde de sábado, na praia de Ponta Negra, estava úmida e dura.
Nenhuma diferença entre os dentes e os seios. Uma tarde chuvosa, dezenas de
enchentes depois, contei a história da minha primeira vez ao amigo poeta
Alcides que, nervos à flor da pele, em plena mesa de bar, escreveu num
guardanapo o sublime Na praia da Ponta
Negra: “...Mas quando te sonho nua / na praia da Ponta Negra, / com gestos
de pré-amar...”. Como era sua voz, como eram seus cheiros, a maciez de seus
toques, a volúpia de seus beijos? A cena me vem silenciosa e muda, um
melancólico filme antigo, nenhuma palavra, nenhum gemido, ao menos, um ai de
dor ou de prazer. Apenas a rigidez da pedra fria: menina mulher, talhada em
ônix.