Amigos do Fingidor

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Lábios que beijei 7



Zemaria Pinto
Ondina


O corpo nu de Ondina, na moldura da janela, foi meu primeiro alumbramento. A pele clarovioleta, a bunda em concha, os seios pequeninos, os ossos salientes. Tudo no corpo de Ondina era mistério, mesmo ao alcance dos meus olhos, quase ao alcance das minhas mãos, a ponto de sentir-lhe o cheiro que emanava dos dedos, que se alternavam na vulva de pelos fulvos. O encontro com Ondina e seus dedos cheirando a flores silvestres eram parte de um ritual cotidiano que se repete na minha memória como se fosse sempre a primeira vez que vejo um corpo de mulher a rolar sobre a cama – as mãos, os dedos, a carne doce de Ondina, o meu desejo em desespero.