Zemaria Pinto
Ondina
O corpo nu de Ondina,
na moldura da janela, foi meu primeiro alumbramento. A pele clarovioleta, a
bunda em concha, os seios pequeninos, os ossos salientes. Tudo no corpo de
Ondina era mistério, mesmo ao alcance dos meus olhos, quase ao alcance das
minhas mãos, a ponto de sentir-lhe o cheiro que emanava dos dedos, que se
alternavam na vulva de pelos fulvos. O encontro com Ondina e seus dedos
cheirando a flores silvestres eram parte de um ritual cotidiano que se repete
na minha memória como se fosse sempre a primeira vez que vejo um corpo de
mulher a rolar sobre a cama – as mãos, os dedos, a carne doce de Ondina, o meu
desejo em desespero.