Paulo Sérgio Medeiros
A festa da carne vai
começar. Na minha avenida só um bloco a desfilar, o bloco da nostalgia, com
seus adereços coloridos de salutar reminiscência. O baile infantil do Nacional
Clube com irmãos, pais e colegas não era o meu favorito, mas tinha todo um
charme por trás das máscaras das Colombinas que estavam sempre procurando seus
Arlequins e eu ali, perenemente de Pierrô. Minha timidez não me permitia
arremessar uma serpentina sequer.
Porém, os amores
platônicos de carnaval me alimentavam até o carnaval do ano seguinte, quando
tudo se repetia. Pierrô a fim da Colombina, Colombina a fim do Arlequim,
Arlequim pegando a Colombina. Minha esperança era de um dia a canoa não virar.
Bom, quase sempre virava e apareciam uns Zezés se insinuando diante da minha
inocência que ficava a se perguntar: Será que ele é? Será que ele é?
Havia também o baile da
Kamélia lá no Olímpico Clube, não estou aqui jogando confete não, mas esse sim
era o melhor. Aquela negona testemunhou meu primeiro selinho carnavalesco. Já
que não aparecia a Colombina, foi com a Margarida caga osso mesmo olê, olê,
olá.
Gostava tanto da negona
que num desses bailes cheguei a ver duas Kamélias. Tudo por conta de um folião
mais animadinho que esfregou um lenço em meu nariz – que, diga-se de passagem,
é um senhor nariz – até o tucupi de lança perfume. Estava no meio do trenzinho
que costurava o salão. O trem descarrilou. Saí cantando: Ó abre alas que eu
quero passar e se essa porra não virar, olê, olê, olá, eu chego lá. E cheguei.
A viagem durou uns trinta segundos. Me perdi dos meus colegas e me encontrei
nos braços da Maria Sapatão.
Inesquecível também era
o carnaval de rua com o povo jogando maizena em quem passava e entrava na
brincadeira. Esse negócio de maizena deixou muita nega do cabelo duro. Tudo
isso muito diferente das festas de rua atualmente. As bandas trouxeram para as
bandas de cá muita violência e incoerência com o carnaval. Cachaça não é água
não, meus amigos. Então, Jardineiras, cuidem de suas Camélias para que elas não
caiam do galho.
...Os carnavais de
outrora.