Amigos do Fingidor

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Mamãe eu quero...



Paulo Sérgio Medeiros

A festa da carne vai começar. Na minha avenida só um bloco a desfilar, o bloco da nostalgia, com seus adereços coloridos de salutar reminiscência. O baile infantil do Nacional Clube com irmãos, pais e colegas não era o meu favorito, mas tinha todo um charme por trás das máscaras das Colombinas que estavam sempre procurando seus Arlequins e eu ali, perenemente de Pierrô. Minha timidez não me permitia arremessar uma serpentina sequer.
Porém, os amores platônicos de carnaval me alimentavam até o carnaval do ano seguinte, quando tudo se repetia. Pierrô a fim da Colombina, Colombina a fim do Arlequim, Arlequim pegando a Colombina. Minha esperança era de um dia a canoa não virar. Bom, quase sempre virava e apareciam uns Zezés se insinuando diante da minha inocência que ficava a se perguntar: Será que ele é? Será que ele é?
Havia também o baile da Kamélia lá no Olímpico Clube, não estou aqui jogando confete não, mas esse sim era o melhor. Aquela negona testemunhou meu primeiro selinho carnavalesco. Já que não aparecia a Colombina, foi com a Margarida caga osso mesmo olê, olê, olá.
Gostava tanto da negona que num desses bailes cheguei a ver duas Kamélias. Tudo por conta de um folião mais animadinho que esfregou um lenço em meu nariz – que, diga-se de passagem, é um senhor nariz – até o tucupi de lança perfume. Estava no meio do trenzinho que costurava o salão. O trem descarrilou. Saí cantando: Ó abre alas que eu quero passar e se essa porra não virar, olê, olê, olá, eu chego lá. E cheguei. A viagem durou uns trinta segundos. Me perdi dos meus colegas e me encontrei nos braços da Maria Sapatão.
Inesquecível também era o carnaval de rua com o povo jogando maizena em quem passava e entrava na brincadeira. Esse negócio de maizena deixou muita nega do cabelo duro. Tudo isso muito diferente das festas de rua atualmente. As bandas trouxeram para as bandas de cá muita violência e incoerência com o carnaval. Cachaça não é água não, meus amigos. Então, Jardineiras, cuidem de suas Camélias para que elas não caiam do galho.
...Os carnavais de outrora.