Amigos do Fingidor

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Um cromo para o ano novo


Pedro Lucas Lindoso


Quando chega o final do ano eu me preocupo logo em conseguir uma agenda para o ano novo. Não sei viver sem elas. Já tentei usar uma eletrônica, mas não supriu minhas necessidades.
Preciso de uma agenda para preencher as minhas responsabilidades diárias. Li em algum lugar que os gregos possuíam duas formas de referência para o tempo. Havia o “crónos”. Pelo “crónos” os gregos marcavam as suas atividades cotidianas. Eram cronometradas. Para isso eu preciso de uma agenda. Para marcar audiências, compromissos, aniversários de pessoas queridas e outras atividades.
Outra forma de marcar o tempo para os gregos era o “kairós”. O “kairós” era o tempo dedicado ao lazer. Minha agenda serve também para o “kairós”. Sábados, domingos, e feriados são preferencialmente dedicados ao “kairós”. Além das noites após as atividades laborativas semanais, em especial a sexta-feira após o expediente.
Mas vejo que há executivos workaholics que não têm contato com o “kairós”. Algumas instituições japonesas exigem que seus empregados façam um relatório de suas atividades de lazer. O descanso, o ócio saudável, é uma necessidade humana. Até Deus descansou após a criação.
Mas penso que devemos nos concentrar no aqui e agora. Por isso uso minha agenda. Bastam as preocupações do dia. Os compromissos futuros ficam lá agendados e evito que minha mente voe para o amanhã. Deixo agendadas coisas que poderei vir a ser, fazer ou conquistar. E me fixo no aqui e agora. Porque o hoje é a grande lição de plenitude.
Quem me chamou atenção para comprar a nova agenda foi tia Idalina. Ligou-me para saber se eu teria um cromo bem bonito para lhe enviar, como fiz ano passado. De fato, ganhei um lindo cromo e o enviei para titia. Ela adorou. Se você não sabe o que é um cromo veja a definição do velho Aurélio, a qual grifamos:

Figura estampada em cores, em geral com relevo, constituindo pequeno impresso recortado para colagem em álbuns, etc., ou imagem maior para pendurar em parede, inclusive como suporte de calendário”.

Na Manaus de minha infância, ninguém falava em calendários. Só em cromos. Lembro-me de meu pai pedir aos seus amigos comerciantes (hoje se diz empresários) que lhe dessem vários cromos de suas lojas. Os eleitores, em especial os do interior, adoram receber cromos nessa época. Inclusive tia Idalina.