David Almeida
Louvado seja Nosso
Senhor Jesus Cristo. Valei-me Nossa Senhora. Epa rei, Iansã! Nossa! Gente, como
é difícil ser santo nessa terra. Ó, foi muito dinheiro, muita ralação para
elevar a categoria dos santos o frei Galvão. Muita reza; fé, peregrinação dos fiéis
e muitos anos de batalha, para finalmente chegar à canonização do frei. Agora,
a batalha vai ser travada para conseguir que a beatíssima Irmã Dulce da Bahia também
seja mais uma santa verde-amarela, a compor o santuário espiritual celeste, mas,
quem sabe, o nosso bondoso Papa Francisco possa baratear o negócio e abreviar a
tramitação das papeladas, cunhando o diploma dessa, que viveu para dar guarida
aos necessitados: a Santa Irmã Dulce da Bahia. Axé! Dizem que milagre ela tem
de sobra.
Bom, mas o negócio é serio,
meu povo; lucrativo – lucrativo para o Vaticano – e demorado. Veja bem: pro sujeito
ser santo tem que provar que os seus milagres aconteceram mesmo, e não tem
“mutreta”, porque a bronca do Vaticano é com o homem lá de cima. Aí, depois, com os milagres em mãos é que a parada
vai começar. Tipo assim: pega todos os milagres, bota dentro de um saco
ou mala, malote, onde der pra colocar – menos na cueca, porque aí já é pecado,
e a coisa endurece, pega mal, para quem quer ser santo, mas, dependendo do
tamanho, você embala bem a mercadoria e com as bênçãos do futuro santo, manda
seguir caminho. E se for um “milagrezinho”? Ah, se for um “milagrezinho”, nem
mande. Não chega lá. Tem que ser um “milagrezão”, algo de muito impacto – tipo
aquelas obras de fachadas que os governos fazem para impressionar eleitores –
ou, por exemplo, ressuscitar a Petrobras, acabar com a corrupção no Brasil; tirar
da Presidência da Câmara Federal o Eduardo Cunha, acabar com a microcefalia dos brasileiros na hora de
votar, enfim, uma coisa sobrenatural.
Em seu tempo, segundo as escrituras sagradas, Jesus cristo – esse sim
fez um grande milagre, e ficou bacana com sua galera – ressuscitou um homem do
leito da morte dizendo “levanta-te Lázaro”, e se duvidar o lazarento tá vivo
até hoje.
Depois de embalar todos
os “milagrezões” –
hermeticamente fechados, para não escaparem, mandar via SEDEX. Caso aconteça
algum extravio, aquele recebedor de propina dos correios, Marinho, quem sabe,
ainda possa fazer um milagre e pagar o pato.
Quando chega ao
Vaticano é que a coisa complica, meus caros leitores: os milagres vão ser
examinados, vistoriados, comprovados e verificados, certificados tintim por tintim.
A procedência, também é importante, não pode ser “made in Paraguai” – no caso, se o “milagrezão”
tiver uma passagem pela Zona Franca de Manaus.
Depois de lavados e enxaguados, com água benta
“Perrier” vão para uma balança especial, digital, da marca “Fillizola”, para
ver o peso da mercadoria. Isso leva tempo e dinheiro. Gente, é muita “grana”
para ser santo. Você gasta o que não tem.
Com toda a certeza,
segundo o homem lá de cima, pobre pode ter o reino dos céus, mas aqui embaixo,
não tem condições de ser promovido a santo, apesar da sua milagrosa existência.
Já o corrupto, principalmente se for político (não são todos, claro) é santo em
qualquer lugar deste País, abençoado por Deus e bonito por natureza. Não precisa
de canonização, pois tem poder e faz milagre e tem uma fonte inesgotável de
força, que é o erário publico: é o “são corrupto”. Por outro lado, nós só
tínhamos o tão falado “jeitinho brasileiro”; agora, temos um santo totalmente
verde e amarelo e outro na agulha. As coisas vão melhorar “manuzinho”! Já
pensou? “O jeitinho brasileiro + um santo é = a?”
Creio que só falta um anjinho
pra gente estar próximo ao paraíso. Quem sabe esse anjo pode sair de um
“milagrezão” de uma CPI, lá em Brasília? “Vamo ter fé, né, Zé”? A fé remove
montanhas.
Em questão das
multinacionais da fé, o que vale é fé de mais, e não fé de menos, ou então, fé
de tudo. Amém!