Amigos do Fingidor

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Mano velho


Pedro Lindoso

No final do ano renovamos nossas forças. É tempo de ser grato. Expressar gratidão a Deus, a nossos pais, aos nossos familiares e aos amigos. As amizades explicam a nossa vida. Roberto Carlos, que sempre aparece nessa época de festas, canta que quer “ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar”. Em outra de suas músicas evoca os amigos cantando: ”você meu amigo de fé, meu irmão camarada”.
Não precisamos de um milhão de amigos, mas é essencial ter amigos irmãos, camaradas. Aqui em Manaus chamamos os amigos de manos e manas. Houve época em que Roberto Carlos chamava seus amigos de bicho.  “É uma brasa, mora. Viu, bicho?”. A moda passou. Novas palavras e expressões entraram e saíram de uso. Amigo virou “o cara”, ou “véio’, corruptela de “velho”.
My friend, mon ami, amigo. Meu amigo Charles. My friend Charles Brown.
Tive uma colega de trabalho, comadre Ana, que chamava todos os seus amigos de compadre e comadre. Era carinhosamente conhecida como comadre. Uma simpatia.
Sobre amigo, há uma insuperável crônica de Carlos Drummond de Andrade – Precisa-se de um Amigo, em que diz:

Não precisa ser homem, basta ser humano, ter sentimentos. Não é preciso que seja de primeira mão, nem imprescindível, que seja de segunda mão. Não é preciso que seja puro, ou todo impuro, mas não deve ser vulgar. Pode já ter sido enganado (todos os amigos são enganados). Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar aquelas que não puderam nascer. Deve amar o próximo e respeitar a dor que todos levam consigo. Tem que gostar de poesia, dos pássaros, do pôr do sol e do canto dos ventos. E seu principal objetivo de ser o de ser amigo. Precisa-se de um amigo que faça a vida valer a pena, não porque a vida é bela, mas por já se ter um amigo. Precisa-se de um amigo que nos bata no ombro, sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo. Precisa-se de um amigo para ter-se a consciência de que ainda se vive.

Grande Carlos Drummond de Andrade!
E aqui em Manaus, continuamos a nos chamar de manos e manas. Quando a amizade é grande as mulheres se chamam de manazinhas. E nós, homens, dizemos fraternalmente:
– Feliz ano novo, mano velho.