Pedro Lucas Lindoso
Uma das sepulturas que mais
recebe visitas no dia dos finados é do Seu Beré. Não é santo nem faz milagres.
Mas foi um dos homens mais queridos que já se conheceu em toda a Zona Leste de
Manaus. Era um caboco suburucu, como diz Thiago de Mello.
Beré teve onze irmãos. Todos
contribuíram muito para aumentar a população de Manaus e do Amazonas. O que não
falta na vida de tio Beré são sobrinhos. E ainda há os amigos de seus filhos que
o chamam de tio.
Quando alguém queria um
conselho era só pedir para o Beré. Ele sempre dizia:
– Se conselho fosse bom a
gente vendia, não dava. E logo ia dando sua opinião sobre o questionamento
feito. Não opinava na área sentimental. Dizia logo:
– Procure um padre ou um
pastor. Ou mãe de santo. Eu não opino nessa área. Também não sou curandeiro.
Procure um médico que é melhor.
Os conselhos de Beré eram
práticos. Um dos sobrinhos, desempregado, foi pedir ajuda. Ele o aconselhou a
vender mingau. O rapaz tornou-se um dos mais prósperos mingauzeiros da cidade.
Outro, cheio de dívidas, veio
lhe pedir dinheiro emprestado. Era um verão escaldante. Beré foi enfático;
– Rapaz, vai vender picolé que
tu pagas tuas dívidas. Dito e feito.
Um outro tinha um terreno
enorme. Valorizado. Uma construtora se interessou pelo imóvel. Em troca de dois
apartamentos no Parque Dez. Consultado, tio Beré opinou:
– Eu não troco uma coisa que
existe por outras duas que ainda não existem. O rapaz, um verdadeiro estúrdio, perdeu
o terreno. A construtora faliu.
Os conselhos de Beré eram
famosos. Se alguém não os seguisse, se dava mal.
Zé Macaxeira é motoboy com a
prestação da moto atrasada. Sonhou com tio Beré. Resolveu vender cerveja e refrigerante na
porta do Cemitério no Dia de Finados. Com esse calor, se deu bem. O lucro foi tão bom que colocou as duas
prestações da moto em dia.
Salve tio Beré.