Tainá Vieira
Cozinhar é uma tarefa
intensamente prazerosa, não importa o que iremos cozinhar. Já disse que
preparar o alimento é melhor do que comê-lo. O cheiro da comida é sexy e tudo
que é sexy dá prazer. Já notaram que eu
sempre associo a comida ao sexo? Na verdade, não sou eu, essa associação ou
comparação está aí desde os primórdios dos tempos. Então, Adão e Eva viviam
felizes e sem pecado no Jardim do Éden, andavam nus e não sentiam vergonha, até
que apareceu a serpente e fez a cabeça da coitada da Eva que comeu do fruto proibido
e ainda ofereceu ao Adão. Esse fruto proibido era a maçã, que retém o poder
simbólico de fruta do conhecimento e da vida eterna e também da sexualidade, da
fertilidade e do erotismo: uma maçã redonda, suculenta e fresca, tal qual um
seio. E por aí vai, há inúmeros alimentos, frutas, legumes, grãos, peixes, tão
eróticos quanto a maçã.
Meu malvado favorito, o
poeta Luiz Bacellar escreveu Sol de Feira,
uma obra composta por 50 poemas, todos na forma de rondel, onde ele usa as
frutas para cantar a sensualidade feminina. Ele diz que o limão é um “verde
mamilo” e Camões já havia dito isso também muitos séculos antes de Bacellar: “os
formosos limões ali cheirando, / estão virgíneas tetas imitando.”
Dizem que alguns
alimentos têm cheiros iguais aos dos órgãos genitais: bacalhau, coalhada... E
há outras partes do corpo que exalam um cheiro igual ao de comida. Li isso em algum lugar. Uma amiga minha disse
que às vezes suas axilas ficam com cheiro de sushi; eu falo pra ela lavar com
limão para tirar o cheiro do sushi. Como já disse por aí, a comida faz parte da
nossa vida do nascer ao morrer; ela está em todos os momentos. Geralmente, o
primeiro encontro de um casal é um jantar romântico, um cardápio leve, bebida
mais suave: ninguém quer se embriagar ou se empanturrar de comida no primeiro encontro.
Nos encontros românticos – que pode dar em
namoro, noivado e casamento –, que podem começar em uma mesa e terminar em uma
cama, o jogo da sedução deve reinar. É um encontro para seduzir em todos os
sentidos. Tudo tem que estar em harmonia, desde o ambiente ao modo como o casal
mastiga. Percebe- se a fome de desejo do homem ou da mulher pelo jeito como
ambos abocanham os alimentos. O gastrônomo e escritor culinário francês Grimod
de La Reyniere disse que as únicas coisas essenciais a um “ninho de amor” eram
um fogão e um colchão. Ele tem razão. Quando se está apaixonado, o indivíduo
quer agradar a seu parceiro. Até quem nunca cozinhou torna-se chef com a mesma
rapidez que foi tomado pela paixão. Não se cansam de cozinhar, adoram preparar
pratos novos, doces, até criam suas próprias receitas. No entanto, quando o
encanto acaba, até o jeito que a pessoa mastiga incomoda: não tem nada mais
irritante do que ficar ouvindo algo duro ser triturado nos dentes de alguém, e
não existe nada mais nojento do que ver alguém palitando os dentes na sua
frente, arrotando na sua cara, ou mesmo receber um beijo com gosto de alho ou
de cebola. Quando há amor, o alho cheira a menta, quando não há, nossa, pulemos
para o último parágrafo.
É costume, no dia dos
namorados, presentear quem se ama com uma caixa de chocolate com um laço de
fita vermelha. Até o formato da caixa ou do chocolate simboliza o amor:
geralmente as caixas têm formato de coração, beijo... Nas lojas de produtos
eróticos, os chocolates têm formato dos órgãos genitais. Comida e sexo estão
ligados do nosso começo ao nosso fim. O homem não foi feito pra viver sozinho e
nem sem comida - tampouco sem amor ou sem sexo.
Há casais que se chamam por nomes comestíveis: docinho, mel, bombom,
delícia e há uma infinidade de nomes doces e melosos que até enjoam e
engordam... Tudo está relacionado, “quando a mulher começa a detestar o modo
como ele mastiga, ela já o ama menos.”