Tainá Vieira
Não existe comida mais
saudável e deliciosa do que um peixe. Com exceção do pacu, o único peixe de que
eu não gosto. Peixe é delicioso, mesmo temperado apenas com sal. Mas existem
outros que só ficam bons quando são temperados à base de ervas finas, como o
caso o salmão. E vocês acreditam que tem gente que não gosta de peixe? Meu
Deus, eu acho que esse povo que não come peixe tem sério problema com a vida. Conheço
gente que tem até nojo de peixe, que não suporta o cheiro de peixe. É bem
verdade que o cheiro de peixe não é tão aromático assim, e também existem
certos peixes bem gordurosos, que enjoam bastante. Os pacus são bem gordurosos,
mas não é a gordura que me desagrada, é o cheiro dele que me causa repugnância.
Deixando os chiliques de lado, os peixes têm
uma importância bem significativa na região amazônica, para o seu povo. Era o
pirarucu salgado ou o surubim a alimentação dos seringueiros no período da
borracha. Os seringueiros eram obrigados a comprar sua alimentação no armazém dos
coronéis, principalmente o peixe salgado e a farinha. Esse peixe salgado, no caso o pirarucu, após
ele ser tratado, ter retiradas suas escamas – que são lindas e servem para
fazer artesanatos, como brincos, por exemplo –, cortam-no em postas finas, ou
nem tão finas, e passam-lhe sal, bastante sal mesmo, e colocam essas postas ao
sol, para elas ficam secas e salgadas. Os seringueiros comiam com o chibé, que
é a farinha na água, com açaí e farinha, com castanha do brasil. Nossa, isso é
muito bom, já comi... Na época dos seringueiros não havia muita receita do
peixe salgado; hoje se pode fazer pirarucu de casaca, onde o segundo
ingrediente importante para essa receita é a banana; pirarucu à portuguesa, onde
o segundo ingrediente é a batata; desfiado de pirarucu nem precisa de receita
para fazer; e pirarucu à moda do seringueiro, onde o segundo ingrediente é a
castanha do brasil. Tudo isso se pode fazer com as postas de pirarucu seco; só
serve se for seco.
Meu pai-avô fazia isso, essas postas de
pirarucu ficavam expostas ao sol, no quintal de casa, perto da cozinha, é
claro, e de vez em quando eu ia lá e pegava uma lasquinha e comia cru mesmo. Sempre
gostei de comida salgada, era delicioso e eu achava muito divertido fazer isso,
é como se pegasse um biscoito do pote, bem normal, você está brincando e de vez
quando pega algo pra mordiscar; as crianças de hoje comem biscoitinhos,
barrinhas doces, eu comia lasquinhas de pirarucu seco. Há vários tipos, tamanhos
e nomes de peixes: pirarucu, tambaqui, jaraqui, tucunaré, que é o meu preferido
– tucunaré a caranguejo, vocês conhecem?! Infelizmente não posso passar a
receita, pois é algo muito intimo meu. E mais uma infinidade de nomes e peixes
que não caberiam aqui. Às vezes, é bom
preparar um peixe bem caprichado, escolher os temperos, os acompanhamentos, até
o modo como o peixe é cortado é importante para o preparo e a confecção do
prato: tambaqui ao molho de alcaparras; pirarucu a belle meuniere; filé de
aruanã ao molho de salsinha e por aí vai. Todos esses são pratos finos,
elegantes e divinos, no entanto um jaraqui frito, acompanhado apenas de
farinha, limão e pimenta tem o seu valor. E o que dizer de uma caldeirada de sardinha?!
Há poucos dias eu fiz, foi a primeira vez que comi caldeirada de sardinha. Há
alguns anos atrás eu presenciei o Luiz Bacellar pedir em uma peixaria uma
caldeirada de sardinha, eu fiquei apavorada, achava que não se comia sardinha
no caldo, ele comeu. Eu lembrei-me dele e fui fazer a tal da caldeirada de sardinha
e ficou muito bom; o Bacellar tinha razão, assim como sempre teve bom gosto.
Ponto final.