Zemaria Pinto
Amália
Um acontecimento em
minha vida, Amália tinha exatos 15 anos quando a conheci – 49 a menos que eu. O
banco ficara para trás, vendido a um conglomerado internacional. Tecnicamente,
eu estava aposentado, mas era impossível viver com aquilo: fui dar aula. Depois
de algum tempo, comecei a prestar atenção na menina de tez escura, cabelos
lisos, olhos profundamente negros, lábios grossos e seios fartos. Ao contrário
da imensa maioria, ela prestava atenção à aula – empreendedorismo, uma novidade
na época –, fazia perguntas e sorria sempre. Até o final do ano escolar, nos
encontramos apenas no colégio, como professor e aluna. Acompanhava a
transformação de seu corpo: ficou mais alta e o que já era farto explodiu em
beleza, incluindo a bunda, que antes não se destacava. Nas férias, surpreendi-me
com um telefonema dela, para minha casa. As ligações passaram a ser rotineiras,
sempre depois das onze da noite.
(Continua no blog Poesia na Alcova)