Zemaria Pinto
Maranhão Sobrinho viveu em uma época em
que jornais e revistas publicavam poesia regular e naturalmente. Acreditava-se,
talvez, que a poesia fosse necessária... Assim, quando Kissyan Castro falou-me
de sua intenção de publicar os poemas inéditos em livros do ilustre filho de
Barra do Corda tive a certeza de que a poesia brasileira só teria a ganhar.
Esta edição deve ser apenas a primeira, porque certamente incompleta; não por
falta de esforço do organizador, mas porque o trabalho de garimpagem é insano.
Kissyan é jovem, tem muito tempo pela frente, para continuar o seu labor de
resgate da obra desse poeta excepcional que é Maranhão Sobrinho.
Quando um trabalho dessa envergadura vem à
luz, há sempre as patrulhas estéticas de plantão para questionar o óbvio. Vamos
nos antecipar a elas. “Se o autor não publicou esses poemas em livro era porque
não os achava dignos disso”. Um livro, mesmo de poemas líricos, como é o caso
do nosso autor, caracteriza-se por uma unidade, um fio condutor. Na hora de
selecionar a produção disponível, muita coisa ficará de fora, por não se encaixar
na proposta do livro. “Ah, e esses poemas de circunstância? O autor não
aprovaria a sua publicação”. Talvez não. Mas nós temos, e o Kissyan mais do que
ninguém tem consciência disso, a responsabilidade histórica de fazer o resgate
da obra dos grandes autores, mesmo da parte mais ínfima, menor mesmo, como uma
forma de melhor conhecer os procedimentos do autor. Manuel Bandeira, por
exemplo, fez isso em vida, com o delicioso Mafuá
do Malungo, editado por João Cabral de Melo Neto, com introdução de Carlos
Drummond de Andrade. Mais precioso que isso é impossível em língua portuguesa. Já
sem argumentos, as patrulhas estéticas partem para a agressão: “esses poemas
não estão no mesmo nível dos poemas publicados em livro”. Maranhão Sobrinho
morreu aos 36 anos. Não teve tempo de organizar sua obra. Nem sabemos se,
peregrino como era, tinha controle sobre essa obra dispersa em jornais e
revistas de vários pontos do Brasil. Tivesse tido tempo e estivesse organizado,
poderia ter trabalhado melhor seus poemas, muitos deles publicados sob a emoção
imediata da escrita. Para trás, patrulhas, para trás!
O material que tenho em mãos é tão rico
que gostaria de ter alguns meses, pelo menos, para cotejar com os três livros
do autor, buscar semelhanças e afinidades, investigar a alma poética de
Maranhão Sobrinho, brincar de inventar teorias e descobrir conexões inusitadas
com poetas de além-antes e de aquém-depois. Mas tenho apenas alguns dias, pois
a efeméride dos 100 anos se aproxima e é a data perfeita para dar um novo e simbólico
alento à poesia do autor de Papeis
velhos... roídos pela traça do símbolo. Então, vou procurar ler esses
poemas como se fossem um livro inédito, o que não é inexato, investigando suas
inter-relações e buscando situá-los historicamente no corpus da literatura brasileira.
Obs: apresentação do livro Poesia Esparsa, de Maranhão Sobrinho,
organizado por Kissyan Castro, reunião de 105 poemas do autor maranhense, jamais
publicados em livro. Edição alusiva ao centenário de morte do poeta, ocorrida em Manaus, no dia 25 de dezembro de 1915.
Para saber mais sobre Maranhão Sobrinho, clique aqui.
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