Marco Adolfs
Um dia desses entrei na livraria Valer e dei de cara com o Bacellar sentado naquela mesinha localizada no lado esquerdo de uma das vitrines de livros.
– Oh! Meu caro! Como vai? Levantou-se o poeta, a me cumprimentar efusivamente.
– Tudo bem... E o senhor?
– Está tudo bem.
Resolvi sentar ao lado do poeta para conversar. O Bacellar além de poeta é um ótimo contador de causos. Lá pelas tantas, resolveu contar uma de suas divertidas histórias.
– Veja só que absurdo. Disse então o Bacellar. – Essa questão da revisão. Uma vez, um sujeito, revisando um livro meu, encontrou a palavra respigar, que escrevi, e achou por bem trocar a bendita, achando que estava errada a grafia.
– E qual foi a que ele imaginou que fosse?
– Respingar, com ene! Exclamou.
– O como é que ficou?
– Respingar, mesmo. Respondeu o poeta, resignado. – Ele não sabia que a palavra respigar existia e que significa recolher as espigas que ficam no campo após a ceifa.
Olhamos um para o outro e pensei nas dificuldades de revisão pelas quais um livro passa. Ainda mais, caindo nas mãos de revisores com baixo repertório de conhecimento. Que o diga o poeta, pois até hoje as espigas de milho do Bacellar respingam em sua consciência elevada. É um erro médico que não tem volta.
.
Fotos: tem sempre alguém por perto pra tirar.