Amigos do Fingidor

sábado, 6 de junho de 2009


João Bosco Botelho

NO ESPAÇO PROFANO
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O tabagismo é provavelmente a maior causa isola­da de doença no mundo.
(H. Mahler, ex‑Diretor da Organização Mundial de Saúde, 1980).

Tabagismo : um dos mais terríveis desastres na história da saúde do homem.
(Gro Harlem Brundtland, ex-Directeur, l’OMS, 1998).

A passagem do tabagismo do espaço sagrado para o profa­no, no Brasil, ocorreu com a chegada do europeu. O vício de fumar, por homens e mulheres, como instrumento de prazer foi, imediatamente, percebido nos primeiros contatos coloniais e assinalado por Cardim(21), no século XVI: Costumam estes gentios beber fumo de petigma (tabaco) por, outro nome erva santa(...) fica como canudo de cana cheio desta erva, e pondo‑lhe fogo na ponta metem o mais grosso na boca, e assim chu­pando e bebendo aquele fumo, e o tem por grande mimo e regalia.

Um dos mais importantes documentos do avanço do tabagismo, após o avanço colonial, é o livro História natural e médica da Índia Ocidental, do médico holandês Guilherme Piso(22), formado pela Universidade de Caen, na França, em 1634.

Durante a ocupação holandesa do Nordeste brasileiro, na primeira metade do século XVII, pelas tropas de João Maurício de Nassau, o médico Guilherme Piso, chefe dos serviços médicos das Índias Ocidentais, fez um registro fundamental(23) para que se possa entender a sedução do tabagismo: A célebre erva Tabaco ou Petum, chamada pelos brasileiros Petume, em quase todas as Índias Ocidentais é, desde remotos tempos, estimada pelos próprios íncolas para sarar feridas. Logo que os europeus souberam disto, pesquisando‑lhe as virtudes recônditas, aplicaram as folhas frescas, bem como o sumo das mesmas, a usos humanos; depois secas, nos abusos e prazeres também. De sorte que agora, como o vento hibernal, o fumo do tabaco vicia o orbe universal.

O francês Jean Nicot ao levar, em 1560, as mudas da planta para a França, não imaginara estar contribuindo para uma das maiores preocupações da saúde pública do século XX. O tabaco ficaria conhecido na Europa, pouco tempo depois, como erva‑do‑embaixador e erva de Nicot. O governo francês convencido do quanto Nicot teria contribuído para o aumento do prestígio da nação francesa, instituiu comendas com o nome dele para todos que se engajassem na difusão do tabagismo (Figura 7).
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Figura 7 – Comenda e selo em homenagem a Jean Nicot.

A palavra nicotiane, neologismo empregado pelo Duque de Guise, foi aproveitada por Lineu (1707‑1778) para nominar o gênero botânico. Nesse período, o fumo do tabaco já estava consolidado na Europa central. Para suprir a demanda, cada vez maior, proliferaram as fábricas artesanais que tratavam as folhas secas de tabaco (Figuras 8).

Figura 8 – Fábricas artesanais.

(Continua amanhã.)

Bibliografia

21. CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil. Belo Horizonte. Itatiaia. 1980. p. 92.
22. PISO, Guilherme. História natural do Brasil ilustrada. São Paulo. Companhia Editora Nacional. 1948. p. 5.
23. PISO, Guilherme. História natural da India Ocidental. Rio de Janeiro. In­stituto Nacional do Livro. 1957. p. 434.

Contato: joaoboscobotelho@gmail.com