Amigos do Fingidor

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Tabaco: o sagrado e o profano em torno da fumaça – 5/6

João Bosco Botelho

A mudança na incidência dos cânceres, nos países industrializados, determinou reações coletivas para combater o tabagismo. A primeira assembléia para tratar do assunto, reunindo representantes de quarenta e três países, ocorreu em Paris, no dia 4 de maio de 1935. Entre outros resultados, estruturou a União Internacional Contra o Câncer (UICC) (Figura 13), com sede em Genegra. A UICC se transformou em referência na luta contra o tabagismo(24).


Figura 13 – A União Internacional de Combate ao Câncer como símbolo da luta contra o tabagismo.

O alerta das autoridades mundiais de saúde pública sobre os riscos do tabagismo, nos Estados Unidos e Europa, até então os maiores consumidores, ocorreu graças ao Relatório de Hammond e Horn, em 1954, financiado pelo American Cancer Society, seguido pelo do Royal College of Phisicians, da Inglaterra, em 1962, descrevendo a nocividade do fumo.

Os controles epidemiológicos começaram a identificar a mudança do perfil de mortalidade em adultos fumantes(25). Entre as alterações na prevalência das doenças como causas de mortes, recebeu impressionante destaque o câncer de pulmão(26). Tido como raro até o início do século 20, esse tipo de câncer começou a ser compreendido como uma das mais sérias ameaças à saúde dos homens fumantes com mais de 45 anos.

Os serviços de saúde na Europa e nos Estados Unidos passaram a considerar o cigarro como a maior causa isolada evitável de morte, não só pela maior incidência dos cânceres de pulmão, orofaringe, laringe e bexiga, mas também pelas doenças cardíacas e respiratórias incapacitantes(27).

Na década de setenta, foram realizadas três reuniões sobre o fumo e a saúde, organizadas pela UICC, que forneceram subsídios para intensificar as campanhas públicas contra o cigarro com ampla concordância dos governos. Nos anos seguintes, surgiram leis que alertavam o consumidor dos riscos e protegiam os não fumantes.

Os estudos bioquímicos dos resíduos da fumaça do tabaco no organismo identificaram muitas substâncias tóxicas e outras relacionadas à carcinogênese.

Na França, em 1985, o Pr. Ives Cachin(28) liderou um grupo de cancerologistas na publicação do livro La lutte contre le cancer em France, que norteou as ações do Estado Francês para conter o tabagismo (Figura 14).


Figura 14 – o autor, com o Professor Yves Cachin, da Sorbonne, em 1983, em Paris.

Os serviços de saúde pública, no Brasil, conseguiram elaborar um dos mais respeitados programas contra o tabagismo e aprovar leis que restringiram enormemente o fumo em lugares públicos, protegendo os não fumantes, proibindo propagandas e adicionando avisos de alertas nos maços de cigarros (Figuras 15 e 16).

O mundo industrial, independente das ideologias, pretende varrer o tabaco do planeta.


Figura 15 – Competente presença do Estado brasileiro no projeto mundial para banir o tabagismo do planeta.

Figura 16 – Competente presença do Estado brasileiro no projeto mundial para banir o tabagismo do planeta.

(Conclui amanhã.)

Bibliografia

24. WAKEFIELD, John, ed. Public Education about cancer. Genebra, International Union Against Cancer. 1977. v. 26. p. 8‑27.
25. WYNDER E. L. & HECHT, S, eds. Lung cancer. Genebra, International Union Against Cancer. 1976. v. 25. p. 95-145.
26. MAISIN, J. H. History of the International Union Against Cancer. Genebra, UICC, 1968. 35 p.
27. FLAMANT, Robert. Notions actuelles sur l'epidemiologie des cancers facteurs de risques. Paris. Institut Gustave Roussy. 1985.
28. CACHIN, Yves. La lutte contre le cancer en France. Paris. La Documentation Française. 1985. p. 72‑4.
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