Nostalgia do luar minguante
Jorge Tufic
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Após vários encontros, deu-se a fundação. Simplesmente aconteceu. Madrugada de 22 de novembro de 1954. Debaixo do velho mulateiro, quase em frente ao portão do quartel da Polícia Militar, na praça do Ginásio Amazonense ou Ginásio D. Pedro II. A boemia literária emocionava a juventude da época, e aos papos diários em redor do pavilhão São Jorge, do amigo Pina, apareciam, com regularidade, estudantes, professores, advogados, operários etc. O maior contingente de jovens parecia vocacionado para as ciências sociais, contábeis, econômicas, entre outras. Os artistas e poetas quase não se importavam com isso. Eles já tinham a sua própria Universidade. A Universidade da Vida, que ficava ali mesmo na República Livre do Pina, um delta que em 1965 receberia o nome de Gonçalves Dias, sem faltar a escultura do grande indianista, por Álvaro Páscoa.
Nessa fase primitiva do Clube, e por conta da boemia, sagravam-se os nobres Cavaleiros de Todas as Madrugadas do Universo, brindava-se ao luar com a taça das Valquírias, compunham-se versos nas lousas do Cemitério de São João Batista, em pleno Boulevard Amazonas; fazia-se o circular do bonde a pé (segundo nos ensinara o poeta Paulo Monteiro de Lima), tudo isso numa só algazarra de festas e cantos heróicos (Marselhesa, Internacional, em primeiro lugar). Esgotou-se, portanto, o vinho de Hamlet, sorvido às pressas no crânio do Vivente Desconhecido. Começam, a partir daí, a surgir os grupos dentro do Grupo. Música, teatro, literatura, cinema, estudos sociais, história, amazonologia. Eclodia o movimento Madrugada. Começava a tentativa de demolição dos valores acadêmicos. Uma estética nova, legitimamente regional, esboçava-se, com certa hesitação, em nossa primeira revista: MADRUGADA 1, 1955. A seguir viriam as páginas literárias, palestras e debates orientados pelos companheiros Saul Benchimol, Francisco Batista e Jefferson Peres. Com a edição dos primeiros livros, programas de rádio, exposições de pintura e desenho, filmagens com roteiros cinematográficos etc., a mobilização atingiria o seu clímax por volta de 1967. A partir de então, à falta, naturalmente, de abertura para o ingresso de novos clubistas, entre tantos espectadores interessados na causa, bate o refluxo.
Reduz-se o grupo dos abnegados plantonistas da aurora, o fogo olímpico decresce na pira da resistência. Ele mastiga os últimos clarões que lhe deram os primeiros gravetos da luta, mas não cede ao desmaio total.
As gerações que ficaram de fora, aí estão, sem terem muita coisa a dizer sobre o Clube da Madrugada. E os tantos outros que se fundaram por aí, com distinção para o de Brasília, o que resta deles?
Quando vou a Manaus fico a rever este cenário da praça, hoje tão diferente. Me assusta, porém, que todos nós ainda estejamos por ali, como à espera de alguém mais para o quorum de votação do ante-projeto dos estatutos da grei. Sem dúvida, inúteis.
Nessa fase primitiva do Clube, e por conta da boemia, sagravam-se os nobres Cavaleiros de Todas as Madrugadas do Universo, brindava-se ao luar com a taça das Valquírias, compunham-se versos nas lousas do Cemitério de São João Batista, em pleno Boulevard Amazonas; fazia-se o circular do bonde a pé (segundo nos ensinara o poeta Paulo Monteiro de Lima), tudo isso numa só algazarra de festas e cantos heróicos (Marselhesa, Internacional, em primeiro lugar). Esgotou-se, portanto, o vinho de Hamlet, sorvido às pressas no crânio do Vivente Desconhecido. Começam, a partir daí, a surgir os grupos dentro do Grupo. Música, teatro, literatura, cinema, estudos sociais, história, amazonologia. Eclodia o movimento Madrugada. Começava a tentativa de demolição dos valores acadêmicos. Uma estética nova, legitimamente regional, esboçava-se, com certa hesitação, em nossa primeira revista: MADRUGADA 1, 1955. A seguir viriam as páginas literárias, palestras e debates orientados pelos companheiros Saul Benchimol, Francisco Batista e Jefferson Peres. Com a edição dos primeiros livros, programas de rádio, exposições de pintura e desenho, filmagens com roteiros cinematográficos etc., a mobilização atingiria o seu clímax por volta de 1967. A partir de então, à falta, naturalmente, de abertura para o ingresso de novos clubistas, entre tantos espectadores interessados na causa, bate o refluxo.
Reduz-se o grupo dos abnegados plantonistas da aurora, o fogo olímpico decresce na pira da resistência. Ele mastiga os últimos clarões que lhe deram os primeiros gravetos da luta, mas não cede ao desmaio total.
As gerações que ficaram de fora, aí estão, sem terem muita coisa a dizer sobre o Clube da Madrugada. E os tantos outros que se fundaram por aí, com distinção para o de Brasília, o que resta deles?
Quando vou a Manaus fico a rever este cenário da praça, hoje tão diferente. Me assusta, porém, que todos nós ainda estejamos por ali, como à espera de alguém mais para o quorum de votação do ante-projeto dos estatutos da grei. Sem dúvida, inúteis.