Amigos do Fingidor

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Epicuro e a felicidade
Tenório Telles


O que é a felicidade? Perguntou-me um jovem recentemente. Como o tema não me é estranho, de imediato lembrei-me de Epicuro e suas considerações sobre o assunto. Expus o meu ponto de vista, ilustrando-o com algumas ideias do pensador grego. Segundo ele, o objetivo da Filosofia é proporcionar ao ser humano o entendimento necessário para que possa alcançar a felicidade: estado em que as pessoas atingiriam a “aponia” (ausência de dor física) e a “ataraxia” (imperturbabilidade da alma).

Epicuro nasceu na ilha de Samos, em 241 a. C., e, ainda muito jovem, iniciou-se nos estudos de Filosofia com Pânfilo. Sem entusiasmo com o mestre, foi para Téos, onde estudou com Nausífanes, discípulo de Demócrito, de quem assimilou a teoria atomista, reformulando-lhe diversos pontos. Dedicou-se ao ensino em diversas cidades gregas até fundar, em Atenas, sua escola filosófica, que ficou conhecida como “O Jardim”, onde viveu com seus amigos e discípulos até sua morte. Teve uma existência simples, vivida de forma serena, despojada e bondosa.

Acreditava que os átomos eram eternos e todas as coisas eram formadas por eles. A morte física ocorreria pela desintegração dos átomos, que passariam a compor outros corpos. Epicuro imaginava com essa teoria explicar a natureza da vida e, assim, ajudar os homens a superar seus medos, especialmente o medo da morte e o medo dos deuses. Defendia uma outra visão em relação às divindades, que não atormentar os homens. Os deuses deveriam servir de modelos, pois eram vistos como representação da bem-aventurança e da harmonia, e não como seres vingadores.

Para Epicuro, a felicidade era uma conquista e estava associada à luta pela superação dos medos e das fragilidades. Entendia essa busca como um caminho marcado por desafios e percalços: entre eles, as dores e os prazeres. As dores físicas são inevitáveis, mas superáveis, especialmente pelas lembranças dos momentos felizes. As dores da alma são difíceis de ser vencidas. São inquietantes e podem durar indefinidamente. O remédio para esse tipo de infortúnio, segundo o filósofo, é a reflexão: “Nem a posse das riquezas nem a abundância das coisas, nem a obtenção de cargos ou o poder produzem a felicidade e a bem-aventurança; produzem-na a ausência de dores, a moderação nos afetos e a disposição de espírito que se mantenha nos limites impostos pela natureza”. Afirmava que as causas dos sofrimentos interiores eram as frustrações, os desejos insatisfeitos.

Um dos filósofos mais generosos e preocupados com a condição humana, Epicuro é um pensador que, ainda hoje, tem muito a nos dizer. Especialmente porque vivemos numa época em que as pessoas atribuem a felicidade à posse de bens materiais e à conquista de status e poder. Isso talvez explique o fato de vivermos numa sociedade em que reina a infelicidade e a insatisfação. Busca-se de forma irrefletida bens, posição, dinheiro, esquecendo-se de cultivar o “jardim” interior. O sábio de Samos considerava que para ser feliz, o ser humano deveria buscar três coisas: ter amigos; exercitar a sua liberdade e ser capaz de pensar por si mesmo, sem a tutela de outrem (pessoas, instituições, igrejas e poderes). Epicuro considerava que “de todas as coisas que nos oferece a sabedoria para a felicidade de toda a vida, a maior é a aquisição da amizade”.