Amigos do Fingidor

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Juventude transviada
Tenório Telles


Viver nestes dias é mais que um desafio, é um exercício de perseverança, confiança e fé. Diante do absurdo, violência e falta de sentido que marcam o cotidiano, é imperativo manter-se esperançoso e confiante, sob pena de sucumbirmos, de sermos tragados pelo desânimo e pela indiferença. Todos os dias somos postos à prova: enfrentar incompreensões, maldades e a hipocrisia de uma sociedade que virou as costas para o cultivo dos valores e esvaziou de sentido o espaço do sagrado.

Essa situação explica o triunfo do individualismo, do sucesso a qualquer custo e da cultura de resultado que determinam as relações e práticas sociais. Para os que vivem sob as imposições dessa lógica perversa, não importa se os comportamentos e os meios são ilícitos ou reprováveis, o que importa para esses seres, despojados de qualquer fundamento moral, ético ou religioso, é o triunfo, o resultado... ter sucesso, dinheiro, visibilidade. Ser admirado, mesmo que essa admiração seja fruto de ações espúrias. O fim justifica tudo.

Essas reflexões nasceram a partir de duas situações que testemunhei nos últimos dias: a primeira, foi uma conversa, entre autoridades, que ouvi e fiquei inquieto. Uma senhora influente dizia que não entendia o porquê “desses jovens, filhos de famílias ricas, só quererem saber de cheirar cocaína e de farras...” Complementou sua observação lamentando o fato de eles não aproveitarem as condições que têm para estudar, “ser gente”. Fiquei imaginando a situação desses jovens, ponderando os motivos que os levam a seguir esse caminho tenebroso, para muitos, sem volta. É uma situação muito grave não só para as famílias envolvidas, mas para o País. São rapazes e moças, com potencialidades, que poderiam crescer intelectual e profissionalmente e ajudar positivamente a sociedade.

Algo grave está acontecendo com as famílias. Por vivermos numa sociedade permissiva e consumista, perdeu-se o sentido da própria vida e os valores se inverteram: o ter triunfou sobre a bondade e a nobreza. Neste mundo de virtualidades, ser feliz é ter dinheiro, poder e, principalmente, ostentar. Ser inteligente é coisa de gente antiquada, como dizem: de cdf. O que importa é ser esperto. As crianças, desde tenra idade, são estimuladas a consumir e são criadas sem limites, impondo às suas famílias a sua tirania e vontades. E, assim, crescem cheias de si e arrogantes, transformando os pais em reféns de seus desejos de consumo e imposições. A pressão exercida pelos meios de comunicação agravam essa situação: impõem modas, comportamentos, a compra, a cerveja, o cigarro, a música de péssimo gosto, a sedução, a banalização de tudo. Esses estímulos são assimilados de forma acrítica, sem o questionamento e orientação dos familiares.

A segunda situação é uma confirmação desse caos familiar e social em que vivemos: os jornais noticiaram esta semana a prisão de uma quadrilha de jovens de famílias ricas. Estavam envolvidos com o tráfico, distribuindo drogas em festas e universidades. Oito jovens com todas as possibilidades para construir uma vida plena de realizações, mas que fizeram a escolha errada. O secretário de segurança pública do Rio de Janeiro se diz “assustado com a juventude que a sociedade está produzindo”. Todos se perguntam: o que está acontecendo? Enquanto tantos jovens são impulsionados para o crime por falta de condições, outros trilham esse caminho pela falta de sentido e de razão para viver. Não foram ensinados a sonhar, ter esperança e, por isso, se desviaram. Um desafio se impõe aos cidadãos e homens de boa vontade: urge salvar nossos jovens.