Amigos do Fingidor

domingo, 4 de outubro de 2009

Quarta Literária: Os sertões – uma tragédia brasileira

Euclides da Cunha, por Portinari, 1944.
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Realizada sempre na primeira quarta-feira de cada mês, há 11 anos, a Quarta Literária do mês de outubro acontecerá no próximo dia 7, às 18h30min, tendo como tema Os Sertões – uma tragédia brasileira. A palestra será ministrada pelo professor Zemaria Pinto.

Sempre que se faz uma pesquisa sobre os melhores ou mais influentes livros brasileiros, Os Sertões, de Euclides da Cunha, é lembrado. Uma unanimidade, desde que foi lançado, em 1902, quando o autor contava apenas 36 anos. Fortemente influenciado pelas ideias positivistas e evolucionistas, o livro de Euclides da Cunha revela ao Brasil do litoral o Brasil do interior – os sertões brasileiros –, a partir da análise da guerra civil que aconteceu na região do rio Vaza Barris, em Canudos, no sertão baiano. Uma comunidade cristã-comunista, que se recusava a reconhecer o recém proclamado governo republicano, e onde todos trabalhavam para o usufruto de todos, sob a liderança de Antônio Conselheiro, um beato letrado, que prometia o paraíso aos seus seguidores, consciente de que a vida terrena não precisa passar pelo jugo dos coronéis, que escravizavam os sertanejos, com poderes de vida e de morte sobre eles.

Estruturado em três partes – “A Terra”, “O Homem” e “A Luta” – Os Sertões é um livro de gênero híbrido, onde a ciência, a história e a literatura, numa linguagem de altíssima tensão poética, convergem para uma análise do “ser brasileiro”. A primeira parte, “A Terra”, reflete sobre os aspectos geográficos, a geologia, as mudanças de temperatura e as condições de uso daquele solo ainda em formação. A segunda parte, “O Homem”, procura entender, à luz da antropologia, a figura do sertanejo – “antes de tudo, um forte!”. Em alguns momentos, a análise de Euclides da Cunha parece cair num cientificismo ultrapassado e retrógrado, para emergir, adiante, em brilhantes deduções sobre as condições de vida e de sobrevivência do brasileiro do sertão.

A terceira parte do livro, “A Luta”, é o coroamento da verdadeira luta travada por Euclides da Cunha: por uma linguagem que, sem perder a poesia, é capaz de transmitir todo o horror de uma guerra fratricida. Mesmo tendo passado não mais que três semanas no teatro de operações, Euclides da Cunha conta com minúcias os detalhes das três primeiras expedições – quando os sertanejos, liderados pelo Conselheiro, impuseram humilhantes derrotas ao Exército Brasileiro – e da quarta expedição, quando finalmente o Exército triunfou, destruindo o povoado de Belo Monte, matando todos os resistentes e prendendo crianças, mulheres e velhos.

Euclides da Cunha escreveu que Os Sertões era, acima de tudo, “livro vingador”, uma denúncia para que o Brasil jamais esquecesse aquela chacina, onde cerca de trinta mil cidadãos perderam a vida. O título da palestra, “Os Sertões – uma tragédia brasileira”, procura dar a dimensão exata daqueles acontecimentos.

Sobre Euclides da CunhaEuclides da Cunha, aos 22 anos, transformou-se em herói da luta pela implantação da República no Brasil, ao jogar sua baioneta de aspirante aos pés do ministro da Guerra. O “estudante da baioneta”, casado com a filha de outro herói da República, o General Sólon Ribeiro, entretanto, optou pela carreira de engenheiro civil, que o obrigava a longas viagens, distanciando-o da família. Numa dessas viagens, já escritor consagrado, membro da Academia Brasileira de Letras, passou uma temporada em Manaus, sua “base” para um trabalho de reconhecimento de fronteiras realizado no Alto Purus. Antes de falecer precocemente, aos 43 anos, Euclides acalentava a idéia de escrever o que ele mesmo chamava de seu “segundo livro vingador”, cujo título provisório era Amazônia, um paraíso perdido. O tema desse novo livro era novamente o sertanejo, melhor dizendo, o seringueiro. Além de Os Sertões (1902), Euclides da Cunha publicou Contrastes e Confrontos (1907, coletânea de ensaios e artigos), Peru X Bolívia (1907, um livro técnico sobre o litígio de fronteiras entre aqueles países) e À Margem da História (1909, onde o capítulo “Terra sem História” representa o embrião do que viria a ser seu “segundo livro vingador”). Outros livros apareceram ao longo dos últimos cem anos, com sua correspondência e suas anotações sobre a guerra de Canudos.

Sobre Zemaria Pinto
Ensaísta, dramaturgo e poeta, Zemaria Pinto é professor de Teoria da Literatura e de Literatura Brasileira. Além de inúmeras palestras sobre literatura, tem ministrado oficinas e cursos, com destaque para a poesia. Tem oito livros publicados: dois de poemas (Fragmentos de silêncio – 1996 e Música para surdos – 2001), um de haicais (Dabacuri – 2004), uma peça de teatro (Nós, Medéia – 2003), dois de ensaios para o vestibular (em 2000 e 2001, em parceria com o professor Marcos Frederico Krüger), organização de poemas de Octávio Sarmento (A Uiara & outros poemas – 2007) e um de teoria literária (O texto nu – 2008). Livros inéditos: Ensaios ligeiros (artigos), Drops de pimenta (contos), A cidade perdida dos meninos-peixes (novela), Lira da madrugada (ensaio) e O conto no Amazonas (ensaio – a sair ainda este ano, pela editora Valer). Peças de teatro: Papai cumpriu sua missão, Diante da justiça e O beija-flor e o gavião (encenadas); Nós, Medéia, A cidade perdida dos meninos-peixes (versão para o palco), Otelo solo e Cenas da vida banal (inéditas).


LançamentoApós a palestra “Os Sertões: Um épico brasileiro” será lançado o livro As Lendas Amazônicas em Sala de Aula, da escritora Anervina Souza. A obra é o resultado dos estudos desenvolvidos pela professora Enervina Souza durante seu Mestrado em Educação, contemplando os pontos considerados como base para uma reflexão sobre a importância da cultura de tradição oral da região amazônica e sua aplicação na escola, buscando a indicação da diversidade de enredos e temas das lendas amazônicas para que sejam explorados, de modo a levar as crianças a se interessarem pela leitura, deixando que sua imaginação criativa se encarregue de fantasiar e recriar as histórias, verificando a maneira como as influências socioculturais e a imaginação criativa das crianças interfere nessa recriação. Para a autora, apontando essas histórias como elemento auxiliar na formação educacional e cultural, estaremos oferecendo a base para a criança que, por meio da lenda, poderá ser ajudada a perceber conflitos internos.

Evento: Quarta Literária
Tema: Os Sertões – uma tragédia brasileiraPalestrante: Zemaria Pinto
Lançamento do livro: As Lendas Amazônicas em Sala de AulaAutora: Anervina Souza
Data: 7 de outubro de 2009
Horário: 18h30
Promoção: Livraria e Editora Valer
Local: Espaço Cultural Valer – Av. Ramos Ferreira, 1195, Centro.
Quanto: Entrada franca
Contatos: Valer – 3635-1324; Zemara Pinto – 9984-2407; Anervina Souza – 9985-6243
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Capa da primeira edição de Os sertões, 1902.