Amigos do Fingidor

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Lembrar Gandhi
Tenório Telles

Mahatma Gandhi (1869-1948).
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A vida é uma tapeçaria tecida com os fios dos acontecimentos cotidianos. Alguns desses episódios marcam definitivamente a consciência da civilização: exemplo disso é o dia 30 de janeiro. No dia 30 de janeiro de 1948, o fanatismo e a estupidez puseram fim à vida de um dos homens mais generosos e justos que pisaram no chão deste planeta. Um homem feito de luz, sonho, carne e esperança, a quem Einstein chamou de “porta-voz da humanidade”.
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Este texto é para celebrar a memória deste ser humano especial. Que fez da sua vida um gesto a favor do bem, do nobre e da crença na construção de um mundo regido pela justiça, pela fé, tolerância e respeito pelo outro e suas crenças. Que acreditava que a regra de ouro da boa convivência “consiste em sermos amigos do mundo e em considerarmos como uma, toda a família humana”. Para afirmar a autenticidade de suas palavras, renunciou aos prazeres e ilusões mundanos, consagrando sua vida à santidade e à luta pela libertação de seu povo, e dignidade do gênero humano.
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Gandhi faz parte de um seleto grupo de homens que fizeram a diferença. Gandhi é verdadeiramente um homem. Sua história e grandeza são mais que um exemplo para o nosso tempo, especialmente para os jovens. A vida desse ser luminoso, que mereceu de seu povo o cognome de Mahatma (“grande alma”), é um sol aceso sobre este mundo dominado pelas sombras, pela arrogância e pelos fundamentalismos. A trajetória de Gandhi nos ensina que um ser humano não é o tesouro que acumula ou o poder que detém, mas a riqueza de seu coração e a fortaleza de seu caráter. Exemplo disso é que se vestia com uma rústica túnica, por ele mesmo tecida, e morava numa casa modesta.
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Sua religiosidade não estava dissociada das preocupações com o destino de seu país e da própria civilização. Sonhava um mundo diferente, fraterno e justo. Compromissado com a liberdade, fez-se líder de seu povo, colocando sua vida a serviço de sua libertação. Defensor da Não Violência, usou métodos pacíficos de luta contra a dominação inglesa na Índia. Vitorioso, firmou-se como uma das maiores lideranças políticas do século passado. Infelizmente sua mensagem e atitudes encontraram poucos seguidores: em nossos dias, reinam na política a intolerância, a mentira e a falta de compromisso com o bem comum. Diante de Gandhi, os líderes de nosso tempo são anões. Se considerarmos a realidade brasileira, temos uma legião de pulhas e degenerados. Esse é um tipo de gente que empobrece a existência.
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Não há nada mais inadequado do que falar desse homem nestes dias de festa, excessos e promiscuidade. Coisas que em nada contribuem para tornar o gênero humano melhor. Gandhi defendia que o ser humano deve cuidar cotidianamente de seu aprimoramento espiritual e “viver em santidade”. E para isso é indispensável combater o que chamou de os “sete pecados capitais” responsáveis pelas injustiças: “riqueza sem trabalho; / prazeres sem escrúpulos; / conhecimento sem sabedoria; / comércio sem moral; / política sem idealismo; / religião sem sacrifício / e ciência sem humanismo". Gandhi está vivo e sua voz ecoa no canto dos pássaros e brilha no colorido das manhãs. Pena que tantos estão surdos e cegos para perceber a sua presença.