Amigos do Fingidor

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

véspera de ano novo

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raspou o pó de café que restava no fundo da lata: deu graças, tinha o suficiente para aquele dia. os bolinhos de farinha fritos na banha substituiriam o pão. e o açúcar? haveria de conseguir um pouco com a vizinha, uma xícara daria para uns dois dias. enquanto fervia a água, estendeu sobre a mesa a toalha branca, comprada pelo marido dias antes de falecer. não esqueceu o pé de arruda no centro da mesa: desejava entrar no ano novo com o pé direito, e a arruda era um santo remédio para mau-olhado e outros malefícios. pitava o cachimbo quando ouviu alguém chamar à porta da casa. uniu as mãos em forma de prece, “deus seja louvado!”, exclamou, reconhecendo a voz da bondosa dona coló.

(Adrino Aragão)