Tenório Telles
A Amazônia, além de última fronteira da civilização e um dos últimos espaços naturais do planeta, conserva-se como um enigma a ser decifrado. É a grande esfinge do nosso tempo. Desde os primeiros viajantes, inúmeras explicações, teorias e visões foram construídas sobre esse universo verde, líquido e misterioso.
O poeta Pereira da Silva, fascinado com sua grandeza e pujança, concebia-a como a representação do paraíso. Outros, amedrontados e sem compreender sua natureza superlativa e enigmática, imaginavam-na como um mundo cheio de riscos, uma representação do caos originário. Algumas mentes sensatas e altivas assumiram o compromisso e o desafio de estudá-la e decifrá-la, como forma de protegê-la e usufruir de maneira responsável os seus bens.
Djalma Batista faz parte dessa linhagem de pesquisadores que ousou enfrentar a esfinge. Fruto desse gesto de coragem e compromisso com a Amazônia, produziu uma das reflexões mais consistentes e atuais sobre a complexidade da região: “A natureza amazônica não está suficientemente conhecida e estudada. Considero, por isso, em primeira prioridade, a necessidade de incentivar pesquisas científicas e tecnológicas, que venham a servir de orientação indispensável”. Aliás, o grande mérito de seu trabalho foi ter percebido o caráter diverso e integrado desse mundo em contínuo processo de vida e renovação. Problematizou muitas questões sustentadas por ilustres cientistas do nosso tempo: a natureza como um organismo vivo, a noção de equilíbrio dos ecossistemas naturais, o reconhecimento da biodiversidade como fator de desenvolvimento e formação de uma consciência ecológica.
Seu livro O Complexo da Amazônia é o resultado de uma existência dedicada à ciência e ao estudo sobre a realidade amazônica. Não é só um diagnóstico sobre a complexidade desse universo, o que explica o subtítulo da obra: “Análise do processo de desenvolvimento”. É uma declaração de compromisso e proposição de caminhos possíveis para engendrar possibilidades inovadoras em termos de desenvolvimento para a Amazônia, capazes de compatibilizar a produção de riqueza e seu usufruto pelas suas populações, sem negligenciar a preservação do meio ambiente. Por isso, advertia: “É urgente que se crie uma agrotécnica para os trópicos, até hoje desconhecida, e que permita o aproveitamento racional das terras amazônicas e a produção de alimentos”.
O que sobressai, além do estudioso, na personalidade de Djalma Batista é a figura humana. Construiu uma trajetória ímpar, fundada em compromissos éticos, políticos e num entendimento de que a ciência não é um fim, mas instrumento para melhorar a condição humana, os processos sociais e gerando qualidade de vida para a sociedade. Seus leitores terão muito a aprender com suas reflexões e seus estudos, mas, sobretudo, com o seu exemplo como cientista, intelectual e pai de família. Foi um homem de sua época, que, como poucos, honrou seus valores e consagrou sua vida à sua maior causa – a Amazônia. Profeta de um mundo incompreendido e ameaçado, Djalma é um dos heróis do nosso tempo.