Tenório Telles
Viver é um desafio cotidiano. Renascemos todos os dias para a faina de assegurar a sobrevivência, de não se deixar morrer ou sucumbir ao desânimo. É preciso fé e coragem para se manter vivo, entusiasmado e com o coração em chamas. A mais decisiva de todas as perdas é a da esperança.
Perder a esperança é perder o lume, o brilho dos olhos, a força que nos move o ser e nos impulsiona para a vida. Por isso, o crime maior desses senhores que se apossam do poder e o transformam num bem particular, usurpando o dinheiro público e condenando a sociedade a uma existência de privações e necessidades, é a subtração da esperança dos cidadãos. Alimentam sonhos e expectativas nos indivíduos e depois os abandonam, agindo em proveito próprio e deixando o povo órfão de suas promessas.
Esses assassinos de sonhos são seres menores, que se contentam com o presente e a satisfação de suas vaidades pessoais. Não têm amor no coração, sentimentos de grandeza humana, tampouco compaixão pela multidão de deserdados que perambula pelas ruas do País em busca de trabalho, de pão e de dignidade para as suas vidas. São eles que geram a miséria e as excrescências humanas que depois precisam eliminar pelo assassínio.
As últimas semanas foram lamentáveis, mas pedagógicas. Sobretudo por ter nos mostrado que o País vai mal porque está contaminado pela desonestidade e desamor, pelos valores humanos e pela pátria. Todas as esferas do poder, nesta Nação infeliz, estão corroídas pela ambição e pelo individualismo. O trágico dessa situação é que isso não é novo. No século XVII, o padre Antônio Vieira escreveu um sermão dedicado aos “Ladrões”, que bem poderia ter sido escrito hoje, tal a sua atualidade:
“O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza... // O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera... Não só são ladrões... os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias... os quais já com manha, já com força roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo de seu risco, estes, sem temor nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados; estes furtam e enforcam”.
Pobre País o nosso. Condenado a ser a eterna pátria do futuro, sem futuro, esmagado pela violência e incúria de governantes sem sonhos, sem generosidade e sem compromisso com a construção de uma sociedade menos desigual e menos injusta, governada sob o reinado do bem comum e do respeito à lei. E o que mais nos aflige é que nossos heróis, aqueles que nos ensinaram a acreditar nos sonhos de um mundo feliz para o ser humano, hoje são comensais do poder. Nos bairros, nas fábricas, nos campos, o povo, traído em suas esperanças, resiste como pode. Fomos abandonados por nossos profetas. Que Deus salve o Brasil.