Tenório Telles
Meu Deus! A loucura e a maldade deitaram raízes no coração do homem e o tornaram indiferente e egoísta. Perdemos o sentido do bem e do justo, da fraternidade e da compaixão. Esquecemos que somos irmãos: que o sofrimento do próximo nos diz respeito, que fazemos parte da grande família humana e que todos merecemos a felicidade, e uma vida digna. O mundo, o grande mundo, é uma dádiva da providência – é a nossa casa, concebida como um jardim, com flores, plantas, bichos, água... passarinhos para nos alegrar. Tudo foi feito para que fôssemos felizes.
Vinicius de Moraes dizia que “é melhor ser alegre que ser triste”! Mas como ser alegre com tanto sofrimento e infortúnio, com a violência devorando tantas vidas. Por falar nisso, lembrei-me de uma experiência recente: senti saudade de um velho amigo e fui ao cemitério visitá-lo. Depois de conversar um pouco com ele, de lhe falar da falta que me faz e recordar tantas coisas boas que vivemos, decidi visitar outros túmulos: gosto de ler os epitáfios, as mensagens dos familiares, de observar o tempo em que viveram e a idade dos habitantes desse mundo chamado saudade.
Surpreendeu-me a quantidade de pessoas mortas na flor da idade: com quinze, dezesseis... até os vinte e dois anos. Inquieto, perguntei a um coveiro sobre a causa da morte de tantos jovens. Informou-me que aquela tragédia era fruto da violência: que a juventude estava sendo morta, vitimada por tiros, esfaqueamentos e acidentes. Disse-me, ainda, que aqueles jovens eram oriundos de famílias pobres e morriam em brigas de galera, assassinados por matadores de aluguel, envolvimento com o narcotráfico ou em confronto com a polícia. Voltei pra casa com uma tristeza muito grande: pensei tanto nesses meninos que não tiveram a chance de viver, amadurecer para o milagre da vida, chegar à maturidade e ser cidadãos.
O pior é que essa situação passa despercebida. Não desperta a comoção das pessoas, tampouco a reação da sociedade. Afinal, quem se preocupa com a destruição dessas vidas? É gente humilde, sem importância social e sem sobrenome. Os poderes públicos não se importam, vivem envolvidos com outras coisas mais significativas, com projetos de grande repercussão social e rentáveis politicamente. Não há tempo a perder com coisas periféricas, com gente sem voz, anônima e desimportante. Essa situação, amigo leitor, não me sai da cabeça. Pergunto-me: como um país pode tolerar tamanha brutalidade e desperdício de vidas?
O que esperar de uma sociedade que mata ou permite que seus jovens sejam mortos? Estamos nos tornando uma nação de velhos e, ainda assim, permitimos que a juventude seja destruída. Dos que escapam, muitos são vitimados pelas drogas, pelo alcoolismo, pela pobreza e falta de oportunidade. As ruas estão cheias de crianças e jovens tentando sobreviver: vendendo balas, frutas, fantasiadas de palhaço e limpando pára-brisas de carros por algum trocado. O gesto desses meninos é um pedido de socorro: querem uma chance de ter um futuro e uma vida decente. Infelizmente esbarram na indiferença social. Os agentes públicos estão cegos para as suas demandas. Os políticos estão envolvidos em discussões mais importantes, preocupados com seus salários, incompatíveis com o trabalho excessivo e a responsabilidade. Para agravar, a sociedade cala. Enquanto isso, nos cemitérios, os coveiros enterram nossos jovens.