Tenório Telles
Dignificar a vida é o desafio que cabe a cada ser humano. Essa atitude exige discernimento e coragem. Não é sem razão que poucos homens fazem de suas existências um testemunho do bem, do justo e da nobreza. A maioria opta em ser parte do rebanho e passa pelo mundo sem deixar as impressões de seu percurso. Essa reflexão me fez lembrar do poema de Francisco Otaviano, “Ilusões de vida”, em que expressa com rara beleza e intenso conteúdo de humanidade o sentido de nosso estar-no-mundo: “Quem passou pela vida em branca nuvem / E em plácido repouso adormeceu; / Quem não sentiu o frio da desgraça, / Quem passou pela vida e não sofreu, / Foi espectro de homem – não foi homem, / Só passou pela vida – não viveu”.
Viver é esse confrontar-se com os percalços da caminhada, assumir posições, fazer escolhas, ter coragem de dizer não quando todos dizem sim. É, sobretudo, ter atitude e usar toda energia e vitalidade de que dispomos para não nos perdermos, não nos amesquinharmos e, assim, nos resignarmos diante das injustiças e do reinado do mal. Isso não é tarefa fácil, exige determinação, renúncia e um fortalecimento permanente de nosso ser e de nossas convicções. Essa situação se torna ainda mais dramática num tempo como o que vivemos, em que os valores, a bondade e a justiça são atributos de poucos, que, não raro, são chamados de antiquados, de gente ultrapassada.
A verdade é que tudo tem um preço e na vida somos chamados a fazer escolhas. A todo instante somos colocados diante de situações em que temos de escolher entre o que é justo e o que reprovável, o que engrandece e o que nos diminui, o que ilumina e o que nos empobrece. E o preço que pagamos pelas escolhas e atitudes erradas que tomamos pode ser a nossa ruína, a subtração do que temos de melhor. Em meio à covardia e oportunismo que caracterizam o mundo contemporâneo, alenta-nos saber que muitos seres humanos, pela coragem e pelo exemplo enobrecedor, fizeram e fazem a diferença. São eles que renovam a vida e presentificam a promessa de um tempo novo, construído sob o reinado da justiça, da fraternidade e do bem comum.
Esses homens quando partem o mundo fica diminuído. Mas esse tipo de gente não morre. O galardão que recebem pela história que construíram e exemplo de vida é a unção da memória e a lembrança de sua gente. Isso os distingue daqueles que, movidos pelo egoísmo, preocupam-se apenas com seus interesses e o desejo incontido de acumular. Para eles a vida se resume a ganhar, ter status, posição e poder. Gente assim vive na ilusão, sacrifica o que tem de melhor em função de coisas tão efêmeras. Querem a riqueza, mas não sabem que a maior fortuna a que pode almejar o homem é ter o coração justo e a alma generosa. Como afirmava o filósofo Kant: “Não somos ricos pelo que temos, mas sim pelo que não precisamos”.
Como estrelas que fulguram no firmamento, os homens bons, os justos, as almas iluminadas, especialmente os que lutam pelo bem comum são faróis que iluminam a consciência da civilização e mantém viva a esperança de um tempo novo para a humanidade. Afinal, o que seria a existência sem Sócrates, Confúcio, Cristo, Thomas Morus, Lincoln, Gandhi, Mandela, Darcy Ribeiro?