Rogel Samuel*
Anibal Beça no Flifloresta - novembro/2008. Foto: Rogelio Casado.
Anibal era um daqueles amigos que eu via raramente. Mas quando nos encontrávamos era como se sempre estivessem juntos.
A última vez que o vi foi no Armando, quando fui até a sua mesa elogiá-lo por sua participação no CD de Luiz Baccelar.
Faz anos, muitos anos.
Recentemente ele me mandou um email com poemas e inscreveu-se na minha lista de "seguidores do blog", onde ele está agora.
Anos antes, ele estava no nosso antigo "Site do escritor".
Por duas vezes estive em sua casa. Na primeira vez, há décadas, fui almoçar (eram famosos seus almoços, suas peixadas...).
A segunda vez foi num grupo de escritores para o encontro político com Thiago de Mello. Estavam todos lá, os escritores todos, os amazonenses, em torno do Thiago.
Anibal eram um grande poeta, premiado poeta.
Recebo de minha Amiga Amelia Pais o seguinte soneto:
A manhã
A manhã nasce entre as muitas janelas
invadindo meu corpo fatigado,
sede dos meus caminhos sem cancelas,
na luz de muitos astros albergados.
Casa onde me recolho das mazelas,
dos louros, derroteiros, lado a lado,
para ouvir de mim, franco, das seqüelas:
Ecce Homo! Eis o triste camuflado.
Essa tristeza de há muito em residência
às vezes se constrói em face alegre
máscara sem eu mesmo em aparência
num carnaval escuro no seu frege.
O que me salva, cor nessa vivência,
é saber que a poesia é quem me rege.
(outubro 3 de uma manhã chuvosa na primavera amazônica.)
Aníbal Beça - N.13 Set 1946/F. 25 de Agosto de 2009
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*Publicado originalmente no blog de Rogel Samuel.