Amigos do Fingidor

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Paulo Jacob
Rogel Samuel*


Sob vários aspectos, ele é o maior romancista da Amazônia.

Não é muito lido, conhecido, porque autor difícil, sofisticado.

Sua morte, no dia 7 de abril de 2004, abre questão grave quanto à divulgação da cultura nacional brasileira.

Sua morte não chamou atenção.

Não se soube.

Eu mesmo, amazonense de Manaus, onde morava o escritor, não tive conhecimento.

* * *

Vim a ouvir da boca de um chofer de táxi, em Manaus, no dia 18 de junho.

Dizia-me ele:

— ...Por ali, na rua onde morava aquele desembargador, que morreu no ano passado...

A rua, cujo nome não me ocorre, fica ao lado do Igarapé.

A casa, em frente ao igarapé, exibe a vocação de Paulo Jacob. Em Manaus, mas sempre voltado para a Floresta. Que ele conheceu bem, pois foi juiz em Canutama, no rio Purus, em 1952, e durante 10 anos viajou pelo Amazonas.

Até que, nos anos 60, foi promovido a desembargador do Tribunal de Justiça.

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Paulo Jacob escreveu muito. Muito. Cerca de 10 romances bem trabalhados.

Quase ganhou o maior prêmio nacional de literatura da sua época, o Walmap, em 1969, com Dos ditos passados nos acercados do Cassianã, 2º lugar. Excelente livro, imenso, denso, 359 páginas de um tipo pequeno, corpo 10 (Rio de Janeiro, Bloch, 1969).

O Walmap tinha juízes como Jorge Amado, Guimarães Rosa e Antônio Olinto.Os três deram o 4º lugar para Chuva branca, em 1967, um dos seus mais belos livros. Outro livro, Vila rica das queimadas, título bem atual, ecológico, também ficou entre os finalistas do Walmap. O título denuncia, como o livro: “O coração da mata, dos rios, dos igarapés e dos igapós morrendo”, sobre o desmatamento. Chãos de Maíconã também ganhou “menção honrosa” do Concurso Walmap.

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Festejado foi pela crítica, Paulo Jacob.

Leila Miccolis o considera “o Guimarães Rosa da Amazônia”.

Guimarães Rosa ficou entusiasmado com Chuva branca.

Aguinaldo Silva diz que ele fez “o primeiro grande romance da Amazônia”.

Assis Brasil compara Chuva branca a Sagarana, de Rosa, e a The wild palms, de Willian Faulkner.

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Ler Paulo Jacob é dificuldade. Chega que ele, em Chãos de Maíconã, anexou um vocabulário da língua ianoname, no fim do livro.

De um Dicionário da língua popular da Amazônia também ele é autor.

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Paulo Jacob nasceu em 24 de fevereiro de 1921 e faleceu no dia 7 de abril de 2004. Escreveu ainda: Muralha verde (1964), Andirá (1965), Estirão de mundo (1979), A noite cobria o rio caminhando (1983), O gaiola tirante rumo do rio da borracha (1987).

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Em Chuva branca, o personagem vai-se adentrando, vai-se assimilando na floresta, vai-se afastando da civilização, até que no fim parece que nem existiu – vira mito. No fim, na morte, ele tira a roupa, fica nu, perdido na mata, integrado nela, sabendo que vai morrer, perdido e integrado, mitificado.

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O gaiola tirante rumo do rio da borracha narra a viagem de um navio, um gaiola, um barco a vapor, saindo de Belém até o outro lado da Amazônia, no rio Purus, até subir o rio Iaco, onde o navio naufragou e ali se soube que o preço da borracha despencara, de quinze mil réis caiu para oito, pondo na falência todos os coronéis. O personagem é o Comandante Antonio Damasceno.

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Paulo Jacob foi professor universitário e Presidente do Tribunal de Justiça. Como Presidente de tribunal chegou a assumir o Governo do Estado, em 1982. Sua morte deixa aberta a vaga de melhor romancista da região Norte.

*Publicado originalmente no blog de Rogel Samuel.