Uma etnografia do parentesco Waimiri-Atroari
Foi lançado, no início desta noite, na Banca do Largo, ao lado do Teatro Amazonas, no Centro de Manaus, o livro Romance de primos e primas, do antropólogo Marcio Silva.
Uma parceria firmada entre a Editora Valer e a EDUA pretende editar uma série de livros na área de Antropologia. A coleção faz parte do conjunto de ações do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas. Romance de primos e primas é o primeiro livro da série “Etnológicas”. O trabalho foi realizado com base na pesquisa de parentesco entre os Waimiri-Atroari, um dos povos indígenas da Amazônia.
Marcio Silva é linguista e antropólogo, com doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Especialista em parentesco, atualmente é professor da Universidade de São Paulo (USP), editor da “Revista de Antropologia da USP”, pesquisador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e professor colaborador da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha.
Colaborou por duas vezes, em 1988 e 1999, como professor visitante na Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Marcio diz que apesar da obra ser intitulada como romance, não se trata de um texto ficcional, mas de uma etnografia, ou seja, estudo de um determinado grupo social por meio da coleta de dados. “Este livro não deve ser lido como romance, pois o romance dado ao título é de primos e primas e não do autor. Trata-se de um romance interessado nos outros, ilustrativo das relações de parentesco entres os Waimiri- Atroari”, explica.
Durante o ano em que viveu junto à comunidade indígena, no período de março a novembro de 1987, dedicou-se à pesquisa de campo, que resultou na tese sobre a união entre parentes próximos dessa etnia. Ele explica que, para os Waimiri-Atroari, o melhor casamento é aquele entre indivíduos que se classificam como primos cruzados próximos. “Eles afirmam que é sempre melhor casar entre si, ou seja, entre corresidentes, pois assim reiteram os laços de aliança entre eles, mas as pessoas só se casam quando se gostam”, ressalta.
Segundo o autor, esse estudo etnográfico sobre o parentesco dos Waimiri-Atroari é importante porque, apesar de ser uma etnia que tem destaque internacional, até recentemente era completamente desconhecida desse ponto de vista e, por isso, estava à margem das pesquisas sobre esse tema. “O trabalho pretende preencher essa lacuna, contribuindo para a ampliação da etnografia regional e, assim, permitir o diálogo com outras pesquisas desenvolvidas na região, que também se defrontam com sistemas de parentesco semelhante. Quero voltar à comunidade e entregar pessoalmente às lideranças da aldeia um exemplar, como forma de agradecimento a essa sociedade indígena”, destaca Marcio.
Waimiri-Atroari
Os Waimiri-Atroari, povo indígena de língua caribe, são habitantes de uma região localizada ao sul do Estado de Roraima e norte do Amazonas. O idioma falado por todos é denominado kiña-yara e a língua portuguesa é usada apenas em situações específicas do cotidiano, como, por exemplo, quando há contato com não-índios. As atividades de subsistência desenvolvidas na região são a caça, a pesca e a agricultura. Atualmente, os Waimiri-Atroari também utilizam o artesanato como fonte de renda para aquisição de instrumentos industrializados, dos quais já dependem. A venda é feita em Manaus pelo “Programa Waimiri-Atroari”, que comercializa as peças produzidas na aldeia em exposições e outros eventos.